TREZES - O Sítio da Mulher Morta (RTP1 - 22h45)
Autoria: Manuel Teixeira Gomes
Realização: José Carlos de Oliveira
Produção: Marginal Filmes
Elenco: José Fidalgo, Beatriz Godinho, Hélder Agapito, Patrícia André, Pedro Lacerda, José Neto, Maria d'Aires
Sinopse: Adaptação cinematográfica do conto homónimo de Manuel Teixeira Gomes.
O Proprietário tem tudo o que o destino quis e que ele tem sabido expandir: terras férteis a perder de vista, imenso gado, vinhos de excepção e charutos maturados nas longas viagens dos barcos vindos directamente do Caribe, mais precisamente de Cuba. De tudo isto ele desfruta no seu rico solar rural, preenchido pela mulher e dois filhos, de quem muito gosta, mas que por vezes lhe interrompem o desfrutar destes prazeres que lhe cabem por direito. Mas o desencanto da rotina passional remete-o sempre para as memórias efabuladas de um momento no passado em que, inesperadamente, descobriu numa meretriz a elevação surpreendente da paixão ao plano do afecto. Até que a meretriz lhe aparece na Herdade, intocada pelos quinze anos passados, mais pura que antes e, até aos seus olhos, rejuvenescida. Mas casada, com um homem perigoso.
O conto O Sítio da Mulher Morta, que integra a obra Novelas Eróticas, foi publicado em 1935.
"Trezes" é um projecto inédito, com a chancela RTP e Marginal Filmes, que reúne autores, contos e realizadores nacionais num formato diferenciador, o Telefilme. Todas as semanas teremos o olhar de um realizador sobre um conto da nossa literatura interpretado pelos melhores actores nacionais, num total de 13 telefilmes. Uma visão cinematográfica de grandes realizadores contemporâneos de alguns dos contos da nossa literatura, numa valorização do nosso património literário e cultural.
Manuel Teixeira Gomes nasceu em Portimão, em 1860. Estadista e escritor, começou a sua carreira política como diplomata, vindo a ser o sétimo Presidente da República, de 1923 a 1925, quando o regime parlamentar atravessava alguns dos seus mais críticos momentos. Como diplomata (antes e depois do consulado sidonista, que o expulsou do corpo diplomático), coube-lhe enfrentar, o que fez com êxito, situações de grande melindre e complexidade, designadamente combater a hostilidade, ou pelo menos a desconfiança, das monarquias europeias (Inglaterra, Espanha) perante o regime republicano instaurado em Portugal e evitar o desmembramento, na Conferência de Paz, do Império Português após a Primeira Guerra Mundial. A sua acção como presidente da República não teve, porém, o mesmo sucesso, pois teve de enfrentar crises políticas (entre elas a de 18 de Abril de 1925) e animosidades pessoais que impossibilitaram a concretização dos consensos que sempre procurou, para além das forças que, através da acção política legal e da conspiração, procuravam derrubar o regime republicano parlamentar. Viria a demitir-se das suas funções a 11 de Dezembro de 1925, num contexto de enorme perturbação política e social. A sua vontade em dedicar-se exclusivamente à obra literária foi a sua justificação oficial para a renúncia. A 17 de Dezembro, embarca no paquete grego «Zeus» rumo a Oran, na Argélia, num auto-exílio voluntário. Na sua actividade literária - da qual se destacam obras como Gente Singular (1909), Novelas Eróticas (1935) e Maria Adelaide (1938) - encontram-se simultaneamente traços esteticistas e naturalistas, bem como uma particular influência da tradição helenística. Todavia, a mais notável constante da sua escrita residirá provavelmente no impulso de transfiguração da experiência pessoal em produtos esteticamente acabados. Faleceu a 18 de Outubro de 1941, na cidade argelina de Bougie, onde existem uma praça, um liceu e um busto com o seu nome.
Sugestão: O filme "Zeus" (2017), de Paulo Filipe Monteiro, retrata a história de Manuel Teixeira Gomes. Em 1923, um escritor de literatura erótica é eleito Presidente da República. A ascensão do fascismo é o contexto dramático das iniciativas de Teixeira Gomes que, apesar das constantes revoltas militares, consegue formar governos reformistas. Promove políticas reformistas, apoia os operários, combate a banca, mas, ao fim de 26 meses, diz basta, pede a demissão e parte num cargueiro, de nome "Zeus", rumo à Argélia, onde viverá até ao fim dos seus dias.
José Carlos de Oliveira nasceu em Lisboa, em 1951. Dirige a produtora Marginal Filmes, é argumentista, realizador e produtor das longas-metragens Inês de Portugal, O Dragão de Fumo, Preto e Branco, Um Rio e Quero Ser Uma Estrela. Formador na área da escrita, realização e produção; cronista na imprensa. Vice-presidente da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisual e da Academia Portuguesa das Artes e Ciências Cinematográficas. Tem assento na Secção Especializada do Cinema e do Audiovisual, do Conselho Nacional de Cultura.
Filmografia:
O Sítio da Mulher Morta (telefilme, RTP1; 2021)
Quero ser uma Estrela (2010)
No Dia em Que... (série docuficção, RTP1; 2009)
Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra (2005)
Preto e Branco (2003)
O Crime... (série, RTP1; 2002)
O Crime ao Pé do Resto do Mundo (2000)
O Dragão de Fumo (série, RTP1; 1999)
Inês de Portugal (1997)
O Rosto da Europa (série, RTP1; 1994)
O Quadro Roubado (série, RTP1; 1992)
Os Melhores Anos (série, RTP1; 1992)