TEATRO: Zululuzu (Teatro São Luiz, Lisboa - 15 a 25 Setembro)
Texto e direcção: Pedro Zegre Penim, José Maria Vieira Mendes e André e. Teodósio
Cenografia: João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira
Figurinos: Joana Barrios
Música original: Xinobi
Produção: Teatro Praga
Elenco: André e. Teodósio, Cláudia Jardim, Diogo Bento, Jenny Larrue, Joana Barrios, Maryne Lanaro, Gonçalo Pereira Valves, Pedro Zegre Penim
Sinopse: "A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos." (Fernando Pessoa in "Livro do Desassossego")
Este espectáculo faz uso de um episódio relativamente obscuro da vida de Fernando Pessoa: a sua chegada a Durban, África do Sul, em 1896, cidade onde passou os primeiros anos da vida. ZULULUZU é o neologismo que enquadra esta passagem, dando voz a dois lugares-comuns: uma ideia de Portugal e uma ideia da África do Sul.
O Teatro Praga tira partido da cooperação entre estes dois clichês culturais para atacar uma instituição teatral, a caixa preta. Em ZULULUZU, o edifício teatral é utilizado como bode expiatório para um discurso contra todos os discursos, que reclama um espaço para aqueles que são deixados de fora, as histórias e personagens esquecidas, as vítimas do "é assim que as coisas são" ou os que são invisíveis em frente a uma parede preta. O espectáculo apropria-se do vocabulário da teoria pós-estruturalista, feminista e de género e aplica-a à sua própria vida. Não é nisto um espectáculo contra a caixa preta, antes propõe que se reconheça o edifício, exigindo visibilidade para a sua arquitectura e normatividade e, em último caso, para o próprio ZULULUZU, um espectáculo a partir da vida e obra de Fernando Pessoa.
ZULULUZU anuncia o fim do "apartheid" das ideias, géneros e formas, e é uma estranha declaração de queerismo, um manifesto a favor de um objecto imaterial, um espectáculo que não veio para ficar e onde o exotismo dá lugar ao endotismo. Se "tenho em mim todos os sonhos do mundo", como escreveu Pessoa, ZULULUZU quer todo o mundo e a sua infinitude.
"E eu não te engulo, nem penses, eu não te engulo que eu não sou nenhum instrumento disciplinador da identidade, eu recuso-me a fabricar a subjectividade dos outros, a limitar as possibilidades de existência, a sujeitar o espaço à prisão das definições – teatro é…, homem é…, vaca é… vaca és tu! Eu não quero a tua visibilidade, não quero o teu enquadramento, seu fundo negro sem perspectiva. Eu não quero ser exemplar. Eu não preciso de ser exposta, eu não quero ser material e concreta, eu preciso do meu bisavô, que era preto, preciso de eu, preciso de sair, é disso que eu preciso, eu preciso é de sair para voltar a entrar, EU SOU UM DRAMA EM GENTE em caixa alta!"
Apresentações:
Teatro São Luiz, Lisboa - 15 a 25 Setembro
Teatro Rivoli, Porto - 30 Setembro e 1 Outubro