LUSOS NO MUNDO - Zeinal Bava (presidente-executivo Oi - Rio de Janeiro, Brasil)
"Como é que um português faz contas de cabeça? Com o lápis atrás da orelha." Esta é só uma das muitas anedotas sobre portugueses que se contam no Brasil, mas já não corresponde ao perfil dos gestores e empresários portugueses no país. Seguramente não a de Zeinal Bava, um dos condecorados pelo Presidente da República nas cerimónias do passado 10 de Junho.
Há um ano, assim que assumiu o cargo de presidente-executivo da OI, foi rapidíssimo a fazer contas: cortou os dividendos dos accionistas em 75%, o que fez o valor das acções disparar imediatamente; contratou mais cinco mil técnicos para materializar a aposta na inovação; vendeu os activos não estratégicos para abater dívida; incluiu as multas do regulador nos critérios para a definição dos prémios dos colaboradores - o que já levou a uma diminuição de 20% nas reclamações dos clientes; fez um acordo com a Globo para difundir 43 canais da rede com maiores audiências no Brasil, através da Oi TV, uma plataforma semelhante à MEO, com capacidade para 200 canais em alta definição; e iniciou um road show pela Europa e pelos Estados Unidos para convencer investidores a financiarem um aumento de capital essencial para a fusão entre a Oi e a PT com 2.388 milhões de euros (um valor equivalente às receitas provenientes do IRS de todos os portugueses nos primeiros dois meses do ano). "É a quinta maior operação do mercado de capitais do mundo este ano e a terceira maior de sempre no Brasil, atrás das da Petrobras e da Vale do Rio Doce. Juntas, Oi e PT estão entre as 20 maiores empresas de tecnologia do mundo e serão presididas por um português", salienta fonte ligada à empresa.
A revista Isto É Dinheiro dificilmente faria capa com um português de lápis na orelha. Em Outubro, por cima de um retrato do gestor, a publicação colocou o título "O dono da empresa sem dono", referindo que Bava criou a maior operadora telefónica de língua portuguesa, com mais de 100 milhões de clientes no Brasil, em Portugal e em África. Lá dentro, mencionava várias histórias de bastidores: as reuniões que não ultrapassam mais de 10 minutos, as instruções que envia por SMS, a preferência por transportar uma mochila em vez de uma pasta, as suas visitas-surpresa às lojas para avaliar o atendimento e a participação em vendas porta a porta. Descrevia-o como afável, duro, controlador, ambicioso "e completamente apaixonado por metas", com dias de trabalho a estenderem-se por 14 horas.
Terá sido assim no mês passado: em 18 dias, Zeinal Bava visitou as instalações da Oi em 10 estados brasileiros, percorrendo 12 mil quilómetros para mobilizar as suas equipas a focarem-se na estratégia: a convergência do fixo, do móvel, da banda larga e da TV. Ao jornal El País, em Novembro admitiu que era difícil em termos pessoais conciliar o trabalho em dois continentes: tem casas no Rio de Janeiro e em Lisboa e vai frequentemente a Londres e aos Estados Unidos para contactos com investidores. "Adoro este negócio, adoro o que faço todos os dias. Quando estou com as minhas equipas não sabem se estou a trabalhar ou a divertir-me."
(retirado do artigo "Os portugueses mais poderosos no Brasil" publicado na edição nº 528 da revista SÁBADO)
Zeinal Bava na capa da revista brasileira "Isto é dinheiro"