José-Augusto França (1922 - 2021)
Faleceu ontem, aos 98 anos, o historiador, sociólogo e crítico de arte José-Augusto França.
José-Augusto França nasceu a 16 de Novembro de 1922, em Tomar. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa. O seu interesse pela pintura começou a manifestar-se em 1946, após viagens a Espanha e Paris, tendo realizado outras viagens à Europa e às Américas. Entre 1947 e 1949 participou nas actividades do Grupo Surrealista de Lisboa, tendo um papel polémico de oposição aos neorrealistas. Na década seguinte seria um defensor da arte abstracta, cujo primeiro salão nacional organizou, na Galeria de Março, que dirigiu entre 1952 e 1954. Publicou os seus primeiros artigos de crítica de arte no Horizonte, Jornal das Artes, tendo a partir daí uma extensa colaboração em jornais e revistas da especialidade.
Em 1959, partiu para Paris, como bolseiro do Estado francês, onde ficou até 1963. Na Universidade de Paris IV (Panthón-Sorbonne) obteve os graus de doutor em História, em 1962 – apresentando a tese Une Ville des Lumières: la Lisbonne de Pombal –, e de doutor em Letras, em 1969 – apresentando a tese Le Romantisme au Portugal.
José-Augusto França deu aulas na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. A partir de 1974, foi professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, onde criou os primeiros mestrados de História de Arte do país. Foi presidente da Academia Nacional de Belas Artes, membro do Comité International d'Histoire de l'Art e presidente de honra da Association Internationale des Critiques d’Art.
Com uma vasta obra nas artes visuais e na cultura, entre os seus trabalhos destacam-se os estudos sobre a arte em Portugal nos séculos XIX e XX, as monografias sobre Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros, além de outros volumes de ensaios de interpretação e reflexão histórica, sociológica e estética sobre problemas da arte contemporânea. No campo da ficção, o seu primeiro romance, Natureza Morta, foi lançado em 1949, seguindo-se, em 1958, um livro de contos. Depois de um prolongado interregno, voltou a publicar com mais regularidade, destacando-se obras como Buridan (2002), A Bela Angevina (2005), José e os Outros (2006), Ricardo Coração de Leão (2007), João sem Terra (2008) e A Guerra e a Paz (2010).
José-Augusto França, que vivia entre Portugal e França, era um dos maiores nomes da cultura portuguesa. Em 1992, recebeu a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa. Foi distinguido com as condecorações de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1991), Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (1992) e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2006). Em 2012, recebeu ainda a Medalha de Mérito Cultural.