DOC TV: Francisco Lucas Pires - Ao Princípio Não Era o Estado, Era o Homem (RTP2 - 23h35)
Autoria: Margarida Mercês de Mello
Realização: Igor Martins
Sinopse: Documentário de Margarida Mercês de Mello que procura mostrar o brilhantismo e a actualidade das ideias políticas de Francisco Lucas Pires, nascido a 15 de Setembro de 1944 e que morreu depois de ter estado na inauguração da Expo'98, como representante do Parlamento Europeu.
A convite de Freitas do Amaral, em 1976 aderiu ao CDS (partido de Centro Direita) e, em finais de 1997, (depois de anos como independente, por desacordo com a dupla Monteiro/Portas, eurocéptica) inscreveu-se no PSD, "apadrinhado" por Marcelo Rebelo de Sousa.
Mas a sua principal vocação foi a Universidade. Formou-se em 1966, com 17 valores, e concluiu o Curso Complementar de Ciências Político-Económicas com 18 valores. Com apenas 23 anos, foi assistente de Direito Constitucional em Coimbra, a sua cidade natal. Vestia informalmente, não era demasiado intelectual e gostava de desafiar os alunos, conseguindo transformar o Direito em algo de vivo e, mesmo, irresistível.
O Homem (que colocava acima do Estado), as novas gerações, foram constantemente alvo do seu pensamento e acção política. Na Assembleia da República (1976-1986) destacou-se pelo estilo fulgurante, com linguagem por vezes provocadora e irónica, mas sempre elegante. A construção da Europa - onde gozava de uma excelente reputação - foi outra das suas paixões. Foi o primeiro português Vice-Presidente do Parlamento Europeu, eleito por unanimidade e reeleito em 1998.
Em Portugal, foi o primeiro político a afirmar-se abertamente de Direita e Liberal, quando tal era perigoso ou, pelo menos, malvisto! Bateu-se pela revisão da Constituição de 1976 (a fim de retirar a referência no artigo 2º "a caminho do socialismo" e de acabar com o poder do Conselho da Revolução), mas esta "arma secreta da Direita" estudantil em Coimbra (anos 60) mais tarde também se empenhou na conciliação da Direita com o 25 de Abril; não via Esquerda e Direita como "Caim e Abel" e sim como "marido e mulher"!
Optimista nato e bem-humorado, via a vida a cores. A sua barba e o seu aspecto desarranjado não encaixavam na imagem da Direita. Foi Conselheiro de Estado e, antes (1981-1983), Ministro da Cultura do VIII Governo Constitucional. Extremamente culto e inteligente, exerceu interesse e, por vezes, mesmo fascínio, junto dos Media e da Esquerda. Tinha amigos em todos os quadrantes políticos e classes socias.
Casou em 1973 com a sua aluna do 3º ano Teresa Almeida Garrett e tiveram quatro filhos, entre os quais o escritor Jacinto Lucas Pires. Vibrava com o Benfica e chegou a escrever artigos para jornais desportivos, a par de inúmeras colaborações na imprensa nacional e estrangeira. Mas a sua escrita versou sobretudo o Direito e a Política. Mário Soares apelidou de "profético" o seu livro póstumo "Amesterdão - Do Mercado à Sociedade Europeia?". E, decorridos 21 anos sobre a sua morte prematura aos 53 anos, embora Portugal, a Europa e mesmo o mundo estejam diferentes, faz ainda mais sentido conhecer a sua obra, com temas tão actuais como as migrações, os refugiados, a segurança.