CINE TV: Sapatos Pretos (RTP2 - 00h25)
Ano: 1998
Realização: João Canijo
Argumento: João Canijo e Pierre Hodgson
Elenco: Ana Bustorff, Vítor Norte, João Reis, Teresa Madruga, Adriano Luz, Márcia Breia, Fernando Luís, José Raposo, Orlando Costa, Francisco Nascimento, Ivo Vieira, Teresa Negrão, Luís César, Julieta Santos, Filipa Figueiredo, Rui Luís (voz), João Lagarto (voz)
Sinopse: Marcolino (Vítor Norte), dono de uma ourivesaria numa pequena vila do sul de Portugal, abusa e maltrata a sua mulher, Dalila (Ana Bustorff), que sonha com aventura e romance. Um dia, Dalila conhece um jovem camionista que fica fascinado pelo ar de opulento objecto sexual que ela criou às escondidas do marido. Os dois tornam-se amantes e vivem um tórrido romance até que se começa a desenhar a ideia de matar o marido dela. Um crime estúpido e brutal, que vai ter um desfecho inesperado.
"Sapatos Pretos", de João Canijo, é um drama passional em tom de sórdida história de amor e morte, livremente inspirado em factos verídicos. Uma mulher com grandes sonhos românticos é casada com um homem violento e abusador, que ela rapidamente engana com um medíocre camionista, que arrasta de seguida para um crime estúpido e sangrento. Canijo encena esta genuína "história de faca e alguidar" com um sentido de farsa delirante num Portugal, que só aparentemente parece existir apenas em ficção mas que é, na verdade, extremamente realista na recriação de atmosferas físicas, emocionais e sexuais. Canijo, com uma surpreendente ousadia de encenação, constrói esta sádica, violenta, sangrenta e brutal história de desejos reprimidos e sonhos perdidos, que é uma espécie de variação portuguesa de " O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes", de Caine, com um original e elaborado trabalho visual e, ao mesmo tempo, com um impressionante gosto pelos pormenores mais sórdidos e demenciais, bem patente na incrível cena da violação. Um filme incómodo e profundamente desconcertante, onde se reflecte um país que já não é de brandos costumes, se é que alguma vez o foi verdadeiramente, povoado por personagens deploráveis, mesquinhas e más, de um quotidiano que é muito mais vulgar do que muito boa gente imagina.