Almeida Santos (1926 - 2016)
© Miguel A. Lopes - Agência Lusa
Faleceu na noite desta segunda-feira, aos 89 anos, António Almeida Santos, presidente honorário do Partido Socialista (PS) e um dos construtores da democracia portuguesa.
António de Almeida Santos nasceu a 15 de Fevereiro de 1926 na aldeia de Cabeça, concelho de Seia, na região da Beira Alta. Passou a infância em Vide, terra natal do seu pai, também no concelho de Seia. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi ainda intérprete do fado e da guitarra de Coimbra.
Em 1953, vai viver para Moçambique e estabelece-se em Lourenço Marques, actual Maputo, onde exerce advocacia. Vive na antiga colónia portuguesa durante mais de 20 anos, onde se destaca como um dos mais importantes defensores dos presos políticos e do direito à auto-determinação daquela província ultramarina. Pertenceu ainda ao Grupo dos Democratas de Moçambique e foi candidato, por duas vezes, às eleições para a Assembleia Nacional, em listas da Oposição Democrática.
Almeida Santos regressou a Portugal após a Revolução do 25 de Abril de 1974 e inicia a sua trajectória na política nacional, que o iria tornar uma das figuras mais importantes da democracia portuguesa. Foi Ministro da Coordenação Interterritorial dos I, II, III e IV Governos Provisórios e Ministro da Comunicação Social do VI Governo Provisório; Ministro da Justiça, no I Governo Constitucional, altura em que aderiu ao Partido Socialista; foi Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro, no II Governo Constitucional; desempenhou um papel determinante na revisão constitucional de 1982, que erradicou o Conselho da Revolução; foi Ministro de Estado e dos Assuntos Parlamentares, no Governo do Bloco Central, de 1983 a 1985; cabeça-de-lista às eleições legislativas de 1985, pelo PS, derrotado por Cavaco Silva; participou, de novo, na revisão constitucional de 1988; membro do Secretariado Nacional do PS, a partir de 1990; presidente da Assembleia da República e membro do Conselho de Estado, de 1985 a 2002. Foi Presidente do Partido Socialista de 1992 a 2011 e, desde o Congresso do PS de Setembro desse ano, é Presidente Honorário.
É autor de vários livros, incluindo ensaios jurídicos. Em 2006, publicou Quase Memórias, uma autobiografia em dois volumes, grande parte da qual dedicada ao processo de descolonização entre 1974 e 1975. Em 2004, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e, em 2008, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Na última semana da campanha eleitoral para as presidenciais, a política portuguesa perde uma das suas maiores figuras, o "príncipe da democracia", e o país perde uma das suas figuras históricas.