TV: David Mourão Ferreira "Duvidávida" (RTP2 - 21h00)
"Quando os deuses morrem, há algo em nós, mortais, que morre também…" Assim escreveu David Mourão-Ferreira, em 1950, no seu diário íntimo, a propósito da morte de um dos seus grandes mestres, Paul Valéry. Passados mais de 60 anos, muitos dos que conheceram de perto o trabalho e o carácter de David Mourão-Ferreira têm razões para pensar o mesmo.
Poeta, ficcionista, ensaísta, professor, divulgador, tradutor e dramaturgo. Estes são aspectos que caracterizam o percurso de um homem que deixou marca nos locais por onde passou e nas pessoas que conheceu. Quando era criança quis deixar de estudar
Ao longo deste documentário, realizado por António Almeida, vamos conhecer em primeira mão excertos de um diário que ele escreveu na juventude e que revelam a lucidez de alguém que amava a literatura mas também o amor, a beleza e as "tentações da carne". Sedutor e seduzido, David Mourão-Ferreira falava abertamente das suas aventuras amorosas.
É conhecido essencialmente como poeta do amor mas o alcance da sua obra vai além disso. David Mourão-Ferreira é também poeta da perturbação existencial e dos Natais; é poeta da claridade e da sombra. Dialoga com as várias épocas, evoca a mitologia e "transforma-a" no presente. Vasco Graça Moura diz que "é um prodígio técnico aquilo que ele consegue fazer".
Foi dos primeiros poetas a escrever de propósito para Amália, contribuindo para a "revolução" que causou a junção de dois universos até então opostos: o intelectual e o do fado. Amante de Lisboa e apaixonado por Itália, era assim David Mourão-Ferreira que, desde cedo, se deixou seduzir pela cultura europeia. Hoje o seu nome é apreciado e divulgado com grande entusiasmo além-fronteiras.
Vasco Graça Moura, João Lobo Antunes, Urbano Tavares Rodrigues, Maria Barroso são alguns dos testemunhos presentes neste documentário de "memórias". Passados anos sobre a morte de David Mourão-Ferreira, este documentário dá a conhecer passagens da sua vida... episódios ora caricatos, ora quase dramáticos... testemunhos de quem o conheceu de muito perto e testemunhos de quem, com a distância necessária, consegue avaliar a dimensão da sua obra... múltiplos retratos de um homem que, acima de tudo, amava a vida. Como ele próprio escreveu... "Que dúvida Que dívida Que dádiva/ Que duvidávida afinal a vida".

