ISTO É PORTUGAL! - Grestel
Origem: Vagos
Em catorze anos, a Grestel passou de 12 empregados para os actuais 240. Mudou as instalações da sua fábrica, em Vagos (distrito de Aveiro), para um espaço maior e fez uma viragem arriscada na sua estratégia: em lugar de vender os seus produtos para marcas internacionais, como Ralph Lauren ou os armazéns norte-americanos Williams-Sonoma e Crate & Barrel, decidiu ter a sua marca própria, Costa Nova (representada pelos típicos palheiros às riscas da zona da Costa Nova). A especialidade da casa é a loiça de grés, material inesperado mas mais resistente do que as clássicas faiança e porcelana.
A história começa em 1998 com dois engenheiros formados na Universidade de Aveiro, Miguel Casal e Rui Batel, administradores da empresa. A mais-valia é o uso de um material cuja porosidade é quase nula. Ou, trocado por miúdos, um material que aguenta líquidos e calor. Começaram por fazer peças de forno, alargaram a oferta aos serviços de mesa. Mais uma vantagem deste material, segundo quem vende: "É resistente no uso diário, quer em termos domésticos quer de hotelaria". E, acrescenta, o grés fino (que, em inglês, se chama fine store ware) "não se faz em todo o mundo". Mas faz-se aqui. E aqui a crise não chegou.
Já está em trinta territórios (Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Rússia, Ucrânia, Croácia, Lituânia, Cazaquistão...). Um dos melhores mercados de exportação são os Estados Unidos. Operam na gama alta, em lojas seleccionadas, hotéis de charme e restaurantes de bom nível. Um prato de jantar custa entre três e quatro euros. "O chavão de dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração aplica-se", garante o director comercial Carlos Ruão. Mas, a verdade é que a inspiração também conta. O êxito, numa área como esta, tem muito que ver com o design das peças. "Acompanhamos as tendências internacionais." As fontes de inspiração são variadas. Um modelo, por exemplo, foi inspirado no desenho de um prato do século XVII ou XVIII que está no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Uma das apostas tem sido a aparência meio tosca de algumas colecções. A provar o sucesso o facto de terem aparecido no número especial de casamento da revista da decoradora norte-americana Martha Stewart.
Na fábrica, com 22 mil metros quadrados de área coberta, produzem-se cerca de 15 mil peças por dia. Esqueça-se o aspecto escuro e sujo. Há muita luz natural e, cerca das 17h00, os funcionários terminam a jornada de vassoura em punho a limpar os postos de trabalho. No laboratório, convivem tradicionais máquinas de lavar loiça, lava-loiças, fornos, balanças de precisão e corantes de todo o tipo - para testar em várias situações.
O prato é a peça mais produzida na Grestel. Cada um anda cerca de quatro quilómetros em passadeiras, desde que o grés entra na máquina de moldar, passa pelos acabamentos e sai do forno. Nem tudo é feito pelas máquinas. Rápidas e certeiras, várias trabalhadoras põem asas em chávenas. Parece simples mas não é. Qualidade é exigência da marca e a sua condição de sobrevivência.
(retirado do artigo 1000 Motivos do nosso Orgulho publicado na 1000ª edição da revista Notícias Magazine)
Grandes armazéns, hotéis e restaurantes de mais de 30 países ficam bem servidos com a loiça portuguesa que pôs o grés a passear na 5ª Avenida, em Nova Iorque, sem tirar o pé da Costa Nova.
No início, foi a loiça de forno que os fez sair da forja, mas depressa Rui Batel e Miguel Casal pegaram nos artigos de mesa para os levar ao mundo. Desde o começo, em 1998, a Grestel tem exportado e é para o exterior que canaliza quase toda a sua produção. Em 2006, os dois sócios fundadores desta PME foram buscar à vizinha Costa Nova a inspiração para a criação de uma insígnia própria, que já vale 12% do negócio. Com 13 colecções, e a promessa de uma nova colecção a cada ano, a Costa Nova começou a ser testada em Espanha, mas a maioria das encomendas vem do Japão, Coreia do Sul, Rússia e Brasil.
Sem quebrar a fama da porcelana ou da faiança portuguesas, a Grestel tem vindo a reclamar o lugar do grés à mesa do mercado cerâmico. A loiça de forno, mesa e cozinha e os acessórios de servir da marca do centro do País revestem-se deste material mais resistente às temperaturas e aos choques. O grés tem também a vantagem de ser pouco poroso e poder receber a aplicação de cores e diferentes moldes, a preços mais competitivos do que a porcelana. Em contraponto ao grés tradicional, pesado e tosco, o grés fino tem um aspecto mais requintado.
Os produtos são feitos à base de pasta de grés que tem origem nacional. Já os vidrados, que dão aos pratos, travessas, bules ou chávenas (e a lista está longe de ficar por aqui) o acabamento final, são importados. Depois de ganharem forma nos projectos da equipa de design residente, nos cerca de 18 mil metros por onde se estendem as duas unidades de produção da Grestel, as peças passam pela fase da modelagem, conformação, decoração - muitas vezes artesanal -, vidragem e, finalmente, cozedura, onde enfrentam temperaturas de 1180ºC. Ao contrário da porcelana, que exige, pelo menos, duas cozeduras, o grés fino é cozido uma única vez. Esse processo de monocozedura permite poupar energia e reduzir a emissão de gases poluentes. A factura energética desta exportadora fica ainda mais leve graças ao aproveitamento dos desperdícios para a reciclagem, o mesmo acontecendo com as peças partidas ou com grandes defeitos.
As colecções de marca própria, como a Costa Nova, ficam completas com talheres, copos e têxteis. Enquanto os primeiros são comprados por cá, os copos são trazidos da Roménia, «por falta de alternativas», lamentam os responsáveis da marca.
A empresa está presente em «alguns pontos de referência» na restauração: os espaços com assinatura do chefe José Avillez, em Portugal, o Luzi Bombom, uma das coqueluches da restauração madrilena, e o National Geographic Café, em diversos pontos do globo.
50 por cento dos 4 milhões de peças que saem todos os anos da Zona Industrial de Vagos têm viagem marcada para os Estados Unidos, onde existem grandes armazéns de decoração como Williams-Sonoma e Crate&Barrel que servem as suas marcas com os produtos com selo luso. Só na 5ª Avenida, em Nova Iorque, a Grestel está em, pelo menos, cinco lojas. E até a gama de produtos para casa da Ralph Lauren veste a «camisola» portuguesa.
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Grés do fino sobre a mesa" publicado na edição nº 1024 da revista VISÃO)