ISTO É PORTUGAL! - Magnetómetros LusoSpace
Imagem do Magnetómetro da LusoSpace e do satélite Proba-2
Origem: Lisboa
Os portugueses que são estrelas na produção de bússolas espaciais querem fazer as suas tecnologias brilhar na Terra, agora que já estão orientados no espaço.
A rampa de lançamento foi uma garagem. O destino? Só pode ser o infinito e mais além, ou não reclamasse para si a missão de "transferir a tecnologia da área espacial para áreas não espaciais". Nascida em 2002, na garagem do pai de Ivo Vieira, a LusoSpace contou logo com uma madrinha... espacial: a Agência Espacial Europeia (ESA), da qual Portugal se tinha tornado membro dois anos antes. Tal foi o entusiasmo da agência europeia com o magnetómetro luso que, com um capital inicial de uns magros 5 mil euros, a empresa fundada por três sócios - dos quais hoje resta Ivo Vieira, o único com formação na área - viu-lhe mesmo ser adjudicado o projecto "sem sequer termos a empresa registada", conta o director-geral da LusoSpace. Em 2003, as primeiras bússolas espaciais com selo nacional saíram da forja e desde então não mais... saíram de órbita: a ESA acaba de atribuir à LusoSpace um projecto de desenvolvimento de um magnetómetro concentrado num só chip, uma tecnologia "com retorno terrestre bastante elevado" e que poderá ser aplicada em smartphones. Nas vésperas de completar o seu 10º aniversário, um dos três maiores produtores de magnetómetros do mundo completa a rota, diversificando a oferta (alguma dela já desenvolvida, outra por desenvolver) com visores de realidade aumentada, MEMS (chips com microelementos mecânicos um milhão de vezes mais pequenos do que o metro) e terminais de comunicações ópticas com raios laser para o espaço.
Os magnetómetros funcionam como uma espécie de bússolas espaciais, permitindo orientar e monitorizar a posição em tempo real dos satélites, através da determinação do campo magnético. Apesar de esta ser já uma tecnologia experimentada e viajada, tanto dentro como fora das fronteiras planetárias, a LusoSpace inovou ao nível do design e ao integrar nela, e pela primeira vez, um chip de tecnologia AMR (Anisotropic Magneto-Resistive), que até então nunca tinha sido utilizada no espaço.
A caixa mecânica, desenhada pela LusoSpace, é produzida em Portugal, ao passo que os chips, adquiridos a um distribuidor espanhol, são importados de diferentes países. Da Dinamarca vem a placa de circuito impresso, enquanto as colas, os vernizes e as tintas são originários de França. Porém, a "mão-de-obra" e o know-how, responsáveis pela investigação, a concepção e a construção dos magnetómetros falam na língua de Camões... até mesmo no caso de um dos colaboradores, que é italiano. Nesta equipa de "galácticos", os engenheiros fazem o pleno: alinham com a camisola da LusoSpace engenheiros electrotécnicos, físicos, mecânicos e aeroespaciais. Desde 2003, quando se lançou na corrida aos magnetómetros, esta armada espacial portuguesa já produziu 12 magnetómetros. O mais famoso é o que está agora em órbita com o satélite Proba-2, que a ESA enviou para o espaço em Novembro de 2009, para testar tecnologias espaciais e fotografar a Terra.
Apesar de, até agora, só terem sido canalizados para satélites, os magnetómetros da LusoSpace podem nortear barcos, aviões, robôs, aviões não tripulados... enfim, "tudo o que precisa de orientação", sintetiza Ivo Vieira. A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Superior Técnico e as Universidades do Porto, do Minho e de Aveiro contam-se entre os actuais, e potenciais, parceiros da LusoSpace.
Aos 40 anos, e enquanto se equipa com os sapatos a fim de entrar na sala de ambiente controlado com 10 mil partículas por metro cúbico, onde são montados e testados os equipamentos da LusoSpace, Ivo Vieira tem o mesmo brilho pueril no olhar que, aos 12 anos, o fez desejar subir ao céu como astronauta. Enquanto nos explica que os novos óculos de realidade aumentada que quer produzir ambicionam chegar ao mercado de consumo e revolucionar a indústria dos jogos ou dos GPS, volta a denunciar o entusiasmo na voz. O mesmo que o levou a especializar-se em Engenharia Física e a concorrer ao programa de formação de astronautas da ESA, em 2008, já com 37 anos, na qual transpôs a primeira fase de selecção que passou de 10 mil para 900 candidatos. A ambição também não mudou: acredita que ainda vai vender os seus produtos à NASA. E continua a sonhar fazer uma viagem ao centro do universo, quem sabe até nos próximos anos...
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Heróis em órbita" publicado na edição nº 978 da revista VISÃO)