Maria Lúcia Lepecki (1940 - 2011)
Faleceu ontem, aos 71 anos, a escritora, ensaísta e professora universitária brasileira Maria Lúcia Lepecki.
Maria Lúcia Lepecki nasceu em Araxá, no estado de Minas Gerais, no Brasil, mas estava radicada em Portugal há várias décadas. Brasileira por nascimento e portuguesa por casamento, Maria Lúcia Lepecki licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Minas Gerais e doutorou-se, em 1967, com uma dissertação sobre o escritor português Camilo Castelo Branco intitulada «Sentimentalismo: Contribuição para o Estudo da Técnica Romanesca de Camilo».
Foi professora de literatura portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de 1970 a 2008, tornando-se catedrática em 1981, e especialista nas áreas de Literatura Portuguesa dos séculos XIX e XX. Na sua actividade de crítica literária, colaborou com várias revistas e jornais portugueses e estrangeiros. Foi colunista da revista mensal Super Interessante e membro do seu Conselho Consultivo.
Publicou várias obras como Eça na Ambiguidade: Uma Leitura Mítica (1976), Ideologia e Imaginário: Ensaio sobre José Cardoso Pires (1978), Romantismo e Realismo na Obra de Júlio Dinis (1979), Para uma História das Ideias Literárias em Portugal (1988) ou Ensaios de retórica e de interpretação (2004), entre outras.
Em 2000, foi agraciada com o grau de Comendadora da Ordem de Sant'Iago da Espada. Em 2004, recebeu o Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores pela obra Ensaios de retórica e de interpretação.
Em nota enviada à Agência Lusa, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, lamentou o desaparecimento de Maria Lúcia Lepecki chamando «a atenção para o seu papel na universidade, porque foi uma grande professora». Acrescentou ainda que a escritora e ensaísta era «capaz de motivar várias gerações para a leitura da literatura de língua portuguesa, além de ter escrito alguns ensaios marcantes sobre o romance contemporâneo e sobre literatura comparada». Francisco José Viegas realçou ainda que a forma como Maria Lúcia Lepecki "abordou a literatura portuguesa, de Eça e Camilo a José Cardoso Pires, sobre quem escreveu um importante livro, Ideologia e Imaginário, foi marcada por uma intuição adorável, que aliou à sua erudição natural».
Desaparece assim uma importante figura do meio literário português e lusófono, alguém que tinha um profundo amor pela língua e literatura portuguesas. «Uma ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa», nas palavras do escritor Baptista-Bastos.
Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, Maria Lúcia Lepecki manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico:« Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira.» E tinha toda a razão!