Fausto Bordalo Dias (1948-2024)
Faleceu hoje, aos 75 anos, o cantor e compositor Fausto Bordalo Dias.
Fausto Bordalo Dias nasceu a 26 de Novembro de 1948, a bordo do navio "Pátria", numa viagem entre Portugal e Angola, mas foi registado em Vila Franca das Naves, no concelho de Trancoso, região da Beira Alta. Foi em Angola, antiga colónia portuguesa, que passou a infância e adolescência e começou a interessar-se por música. Filho de beirões, assimilou os ritmos africanos a que juntaria, mais tarde, os das suas origens lusas. O primeiro grupo musical de que fez parte, ainda em Angola, chamava-se Os Rebeldes.
Em 1968, com 20 anos, fixou-se em Lisboa para iniciar os estudos universitários. Licenciou-se em Ciências Sócio-Políticas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e frequentou um mestrado de Relações Internacionais. Foi ainda enquanto estudante que gravou o primeiro disco, "Fausto", marcado por canções com grande teor interventivo, e integrou o núcleo dos cantores de resistência ao fascismo. Com este álbum de estreia, venceu o Prémio Revelação da Rádio Renascença. A adesão ao movimento associativo aproxima-o de compositores como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e, mais tarde, de José Mário Branco e Luís Cília, que já viviam no exílio.
"Pró que Der e Vier" (1974) e "Beco sem Saída" (1975) são dois trabalhos iniciais marcados pela experiência revolucionária. A esses seguiram-se "Madrugada dos Trapeiros" (1977), "Histórias de Viajeiros" (1979) e "Por Este Rio Acima" (1982), o seu grande sucesso, inspirado na obra "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto.
Com "Para Além das Cordilheiras" (1989) venceu o Prémio José Afonso. "O Despertar dos Alquimistas", "A Preto e Branco", "Crónicas da Terra Ardente" são outros dos seus álbuns. Em 2003, compôs "A Ópera Mágica do Cantor Maldito", uma perspectiva sobre a História portuguesa pós-25 de Abril.
Em 2009, com José Mário Branco e Sérgio Godinho, fez o espectáculo "Três Cantos", sobre o repertório dos três músicos, dando posteriormente origem a um álbum com o mesmo nome. Em 2011, lançou o seu último álbum, "Em busca das montanhas azuis", que conta com arranjos musicais de José Mário Branco em quatro faixas.
Autor de alguns dos temas mais icónicos da música portuguesa, como "O barco vai de saída", "Navegar, Navegar", "Lembra-me um sonho lindo", "Rosalinda" ou "Foi por ela", entre muitos outros, Fausto Bordalo Dias era um dos maiores nomes da cultura portuguesa. A sua música transbordava portugalidade e era um espelho da História nacional.