Manuel Cargaleiro (1927 - 2024)
Faleceu hoje, aos 97 anos, o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro.
Manuel Cargaleiro nasceu a 16 de Março de 1927, em Vila Velha de Ródão, na região da Beira Baixa, mas com apenas dois anos de idade muda-se com a família para a Sobreda da Caparica, no concelho de Almada, onde passa a sua infância e adolescência. É numa olaria no Monte da Caparica, onde ia à escola, que descobre a arte da cerâmica e começa a fazer experiências com vidros e tinta.
Durante três anos, Manuel Cargaleiro foi estudante de Ciências Geográficas e Naturais na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e, em 1949, ingressa na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. As suas primeiras pinturas abstractas, intituladas Microscopic Compositions, surgiram da observação dos tecidos vegetais que o microscópio reproduzia. Nesse mesmo ano, participou no Primeiro Salão de Cerâmica, organizado por António Ferro, director do Secretariado Nacional da Propaganda e, em 1950, organizou o Primeiro Salão de Artes Plásticas da Caparica. Dois anos depois, a sua primeira exposição individual teve lugar no Secretariado Nacional de Informação, em Lisboa.
Em 1954, enquanto dava aulas de Cerâmica na Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, surgiu a oportunidade de expor as suas peças na Galeria de Março, viajou pela primeira vez a Paris e ganhou o Prémio Nacional de Cerâmica. Em 1955, Manuel Cargaleiro foi agraciado com o Diploma de Honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes. No ano seguinte, ganhou o primeiro prémio no concurso para o projecto (não realizado) da cobertura cerâmica dos edifícios da Cidade Universitária em Lisboa e foi-lhe solicitada a concepção de painéis de azulejo para o Jardim Municipal de Almada e para a fachada da Igreja de Moscavide. Em 1957 e 1958, receberia duas bolsas de estudo na área da cerâmica, respectivamente em Faenza e em Gien, tendo a segunda sido proporcionada pela Fundação Calouste Gulbenkian. É também nessa altura que fixa residência em Paris.
Entre 1959 e 1970, ocorreriam diversas exposições individuais, designadamente em Lisboa, em Paris, no Brasil, em Tóquio e no Porto, entre outras cidades; o artista participaria também em eventos colectivos em Ostende, Almada, Genebra, Rio de Janeiro, Osaka, Seul e no Porto, entre outras. Na década de 1970, a arte de Cargaleiro seria mostrada em numerosas exposições individuais, organizadas em Genebra, Milão, Lausanne, Paris, Brasília, Lisboa, Portalegre e Reims, para além de diversas exposições colectivas. Entre 1971 e 1973, o pintor foi convidado pelo Ministério da Cultura francês a conceber painéis cerâmicos para três escolas em França. Em 1974, no âmbito da celebração do 25º aniversário de carreira de três artistas da Beira Baixa - Eugénio de Andrade, José Cardoso Pires e Manuel Cargaleiro - o Jornal do Fundão editou uma medalha esculpida por Lagoa Henriques.
A partir da década de 90, predominaria na sua obra uma forte inspiração do azulejo português e ainda o apego às suas raízes beirãs. Em 1990, foi inaugurada a Fundação Manuel Cargaleiro, em Castelo Branco, capital da região da Beira Baixa. No Seixal, existe também o Museu-Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, dedicado à vida e obra do artista.
Manuel Cargaleiro recebeu várias distinções e condecorações, em Portugal, França e Itália. Com a sua morte, Portugal perde um dos seus maiores vultos culturais.