Editora: Quetzal

Sinopse: Um retrato dos últimos anos da vida portuguesa através de personagens escolhidas a dedo. Nenhuma delas é conhecida. Nenhuma delas merece a nossa piedade.

Entre o conto e a crónica, trocando os nomes e avariando as grandes teorias sobre o funcionamento da pátria, estes textos de J. Rentes de Carvalho retratam o país com humor, cumplicidade, atrevimento ou uma compreensão que não pede distância, mas proximidade. Os comportamentos destas personagens não são, na maior parte das vezes, dignos de elogio ou de serem escolhidos como exemplo, não receberão medalhas no Dia de Portugal. Mas são, arrancados à vida desconhecida da província, das vilas e aldeias da pequena pátria, um dos melhores retratos de todos nós, frívolos ou sentimentais, mentirosos ou com um fingido amor pela verdade.

Este livro, que recolhe textos de diário, pequenos contos ou crónicas ficcionadas, é uma espécie de resumo dos últimos anos da vida portuguesa, um retrato do país através de pequenos apontamentos sobre personagens e vidas comuns, populares, rurais, desconhecidas - e sobre um escritor que observa o seu país, rindo ou ficando macambúzio. Ou fingindo-se.

De ascendência transmontana, J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, onde viveu até 1945. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para jornais como O Estado de São Paulo, O Globo e o Expresso. Em 1956 passou a viver em Amesterdão, onde se licenciou (com uma tese sobre Raul Brandão) e foi docente de Literatura Portuguesa, entre 1964 e 1988. Dedica-se desde então exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. Escreveu romances, contos, diário, crónica, e guias de viagem ou ensaios. Vive entre Amesterdão e Estevais (Mogadouro), metade do ano em cada sítio.

Documentário com imagens inéditas da televisão leste-alemã, em 1974.

Em 2017, vasculhando os arquivos da televisão alemã em busca de imagens para um documentário sobre o serviço cívico estudantil nos anos da revolução portuguesa, encontrámos uma coisa diferente: imagens de agentes da PIDE, detidos na cadeia de Peniche e entrevistados na cadeia. A entrevista com os polícias presos foi a única a ser emitida por alguma televisão e é uma das originalidades incluídas do filme "Primavera Portuguesa". Ela tinha tudo para chamar a nossa atenção e para ser guardada na expectativa de uma ocasião tão excepcional como o cinquentenário do 25 de Abril. Daí surgiu a ideia de um documentário.

Mais interessante do que a entrevista de Peniche eram o caminho até ela e os caminhantes desse caminho. Quem as fez foi uma equipa de televisão da RDA que cá veio filmar a Revolução dos Cravos. Daí resultou o filme "Primavera Portuguesa", inédito em Portugal. A equipa que o rodou foi uma das primeiras a chegar a Lisboa, logo em 27 de Abril de 1974.

A RDA investiu neste projecto meios humanos, técnicos e financeiros consideráveis, nomeadamente enviando para Portugal a lendária "equipa Katins", que aqui permaneceu durante largos meses.

A própria escolha da equipa é altamente significativa. A realizadora Sabine Katins era a grande estrela do filme documental. Apesar de ser relativamente jovem, tinha já no curriculum diversos documentários filmados em ambientes hostis, como a então Rodésia, a Namíbia, o Médio Oriente e a Alemanha ocidental. Algumas das suas filmagens foram feitas em condições clandestinas e valeram-lhe uma aura de agente secreta.

Em 1978, Sabine Katins caiu em desgraça e os seus trabalhos foram arredados do pequeno ecrã. Quando voltou a poder trabalhar, passou a dispor de meios muito mais modestos. Quebrou agora um silêncio de várias décadas, ao ser entrevistada pela RTP.

O operador de câmara do "Grupo Katins", John Green, acompanhou as filmagens da RTP em vários locais das filmagens leste-alemãs de há 50 anos, revisitando sempre que possível as pessoas que tinham sido protagonistas daquele documentário.

Uma "Primavera Portuguesa", dos jornalistas António Louçã e Sofia Leite, tem imagem de Paulo Domingos Lourenço, edição vídeo de Sérgio Alexandre, captação áudio de Nuno Esteves, sonoplastia de Rui Soares e produção de Natacha Silva Frey.