LETRAS LUSAS: "25 de Abril - No Princípio Era o Verbo", de Manuel S. Fonseca e Nuno Saraiva
Texto: Manuel S. Fonseca
Ilustrações: Nuno Saraiva
Editora: Guerra & Paz
Sinopse: Festa. Este livro festeja os 50 anos do dia que derrubou uma ditadura de 48 anos. O 25 de Abril, catarse e delírio, foi uma das mais impressionantes algazarras de liberdade, loucura, e inocente destrambelhamento colectivo que o modesto povo português já viveu.
A liberdade chegou como uma inundação: proliferaram partidos políticos; levantaram-se do chão incendiários educadores do povo; agitaram-se estandartes; colaram-se cartazes; pichagens pintaram paredes; ruas, largos e avenidas entupiram-se com torrentes de gente em loucas manifs.
De tudo isso este livro quer ser a mais despretensiosa - e divertida - testemunha. Primeiro, num preâmbulo mansinho, nocturno, visitamos e descrevemos, hora a hora, os incidentes e o suspense da noite de 24 de Abril, da madrugada e do dia 25 em que os militares de Abril derrubaram o Estado do estado a que isto chegara.
Depois, redescobrimos as palavras de ordem, o alucinado desatino das palavras que varreu Portugal, evocando cartazes, os gritos das manifestações, as paredes e muros pintados. Mais de duas dezenas de ilustrações de Nuno Saraiva recriam, neste 25 de Abril, no Princípio Era o Verbo, um Portugal de cabelos desvairadamente compridos, calças boca de sino, soutiens a serem queimados, um Portugal a pôr a ávida boca na orgia de novos costumes.
O 25 de Abril foi um dia polifónico em que da voz de cada português saiu uma palavra, fosse essa palavra exaltante, ridícula, hiperbólica, tímida, ou do mais sublime humor. Dessas palavras se construiu o Portugal que hoje somos. Dessas palavras é feito este livro.
Manuel S. Fonseca tinha cinco anos quando chegou a Angola, ao musseque Sambizanga, em Luanda, cidade em que viveu, com interregno de dois anos no Lobito, até final de 1976. Infância, adolescência e independência são a matéria do livro Crónica de África. Admirador impenitente das crónicas de Nelson Rodrigues e António Lobo Antunes, quis, nesta Crónica de África, tratar as suas cenas da vida real com o gosto narrativo que tanto o deslumbra no cinema. Cronista no Expresso e no Jornal de Negócios, com artigos publicados no JL, Semanário, Face, Marie Claire, CM e Granta, foi, antes, autor de Michelangelo Antonioni e Francis Ford Coppola, biografias editadas pela Cinemateca. Co-autor, com João Bénard da Costa, do volume IV do Cinema Musical. Na Guerra & Paz, foi autor de A Revolução de Outubro – Cronologia, Utopia e Crime, Pequeno Dicionário Caluanda e o Pequeno Livro dos Grandes Insultos. Organizou e prefaciou várias antologias de Fernando Pessoa, em particular Que Salazar era o Salazar de Fernando Pessoa e a trilogia de livros ligados às grandes tragédias do século XX, Manifesto Comunista, Mein Kampf e Pequeno Livro Vermelho. Prefaciou ainda obras de Platão, Jonathan Swift, Rimbaud, Mark Twain, Claude Le Petit, Oscar Wilde e Pierre Félix- Louÿs.
Nuno Saraiva nasceu em 1969, em Lisboa. Tem colaborações em toda a imprensa nacional editorial, à excepção do Diário da República e do Correio da Manhã. Autor de banda desenhada, é residente no jornal online @mensagemdelisboa. Cartunista político do Inimigo Público (jornal Expresso). Desenha as Festas de Lisboa e Marchas, desde 2014 até 2023. Professor nas escolas de arte Ar.Co e World Academy, coordena também o curso de Ilustração digital na Lisbon School of Design (LSD). Entusiasta da Pintura Mural (com U) com inúmeros trabalhos expostos pela cidade, tais como A História de Lisboa (Alfama), Fado (Mouraria), Mandela (Campo Grande) ou Pensão Amor (Cais do Sodré). Em duas palavras: Ilustra Lisboas. No dia 25 de Abril de 1974, tinha 4 anos e estava no melhor do pior dos sítios, a norte do Niassa, Moçambique, junto do pai, Capitão Miliciano da Companhia 1 do Batalhão de Caçadores 4811, no meio de uma guerra em que o pai não acreditava.