ESPECTÁCULO: Fernando Tordo - Natal em Casa de Ary
Fernando Tordo criou, com Ary dos Santos (1936-1984), umas das mais marcantes parcerias na história da música em Portugal.
Mais do que um concerto, "Natal em Casa de Ary" é uma viagem aos tempos do número 23 da Rua da Saudade, em Lisboa.
O palco, cenicamente transformado na "sala dos veludos" da casa de Ary, servirá de ponto de partida para uma viagem pela obra de Fernando Tordo e Ary dos Santos. De "Cavalo à Solta", "Tourada" ou "Estrela da Tarde", passando por canções do disco "Operários de Natal", e sem esquecer "Quando um Homem Quiser", Fernando Tordo leva a vários palcos do país um concerto único com os seus músicos.
Espectáculos:
Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra - 7 Dezembro
Auditório da Casa das Artes, Arcos de Valdevez - 18 Dezembro
Casa da Música, Porto - 19 Dezembro
Teatro Maria Matos, Lisboa - 20 Dezembro
José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa, a 7 de Dezembro de 1937. Iniciou a sua instrução no Colégio Infante Sagres mas, tendo sido expulso por mau comportamento, passou para o Instituto Nuno Álvares, um colégio interno em Santo Tirso. Mais tarde regressou aos estudos em Lisboa, no Colégio São João de Brito, no Lumiar. Apesar de não ter terminado nenhum curso superior frequentou as faculdades de Direito e de Letras de Lisboa.
Ary dos Santos inicia-se muito cedo na escrita de poesia e, quando soma apenas 14 anos, em 1953, a sua família, contra a sua vontade, publica o seu primeiro livro, de título "Asas". A sua personalidade rebelde leva-o a sair de casa com apenas 16 anos e, para fazer face às despesas de sobrevivência, passa por vários empregos, como vendedor de máquinas de pastilhas elásticas, paquete na Sociedade Nacional de Fósforos ou escriturário no Casino Estoril. Em 1958, Ary dos Santos inicia uma carreira na área da publicidade, onde terá bastante êxito, fruto da sua grande criatividade aplicada nos slogans publicitários.
Paralelamente, continuará a escrever os seus poemas e, no ano de 1954, é reconhecida a qualidade dos seus escritos com a selecção de alguns dos seus poemas para a Antologia do Prémio Almeida Garrett, ladeando com nomes consagrados da poesia portuguesa. A sua estreia efectiva dá-se em 1963 com a publicação do livro de poemas "A liturgia do sangue". No ano seguinte, é editado o "Tempo da Lenda das Amendoeiras" e o poema "Azul existe", que será representado no Tivoli, no Teatro da Estufa Fria e na RTP.
Ao longo da sua carreira, Ary dos Santos foi sempre publicando livros de poemas, como: "Adereços, endereços", em 1965; "Insofrimento in sofrimento", em 1969; "Fotos-grafias", um livro que foi apreendido pela PIDE, em 1971; "Resumo", em 1973; "As Portas que Abril Abriu", em 1975; "O Sangue das Palavras", em 1979; e, em 1983, "20 Anos de Poesia". À data da sua morte, em 1984, tinha em preparação a obra "As Palavras das Cantigas", que foi publicado pelas Edições Avante, em 1989, com coordenação de Ruben de Carvalho, e, também, uma autobiografia romanceada a que pretendia dar o título de "Estrada da Luz – Rua da Saudade". Postumamente, em 1994, foi editada "Obra Poética", uma colectânea dos seus poemas.
A teatralidade patente na sua voz vibrante encontra-se registada em várias edições discográficas, onde se apresenta como declamador. O seu primeiro disco, "Ary por si próprio", data de 1970. No ano seguinte, participa no LP "Cantigas de Amigos", juntamente com Natália Correia e Amália Rodrigues. Em 1974 surge "Poesia Política"; em 1975 "Llanto para Afonso Sastre y Todos"; em 1977 "Bandeira Comunista"; em 1979 "Ary por Ary" e, no ano seguinte, "Ary 80", que será reeditado em CD em 1999.
As extraordinárias capacidades criativas de Ary dos Santos estiveram também patentes na área que lhe logrou maior sucesso e popularidade junto do grande público, a de autor de poemas de canções e Fados. José Carlos Ary dos Santos é autor de mais de 600 poemas para canções, colaborando assiduamente com vários compositores, como Nuno Nazareth Fernandes, Fernando Tordo, Alain Oulman, José Mário Branco, Paulo de Carvalho ou António Victorino d'Almeida.