Gonçalo Ribeiro Telles (1922 - 2020)
Faleceu ontem, aos 98 anos, o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles.
Gonçalo Ribeiro Telles nasceu a 25 de Maio de 1922, em Lisboa. Licenciou-se em Engenharia Agrónoma e terminou o Curso Livre de Arquitectura Paisagista, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Foi ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa que iniciou a sua vida profissional, ao mesmo tempo que dava aulas no Instituto Superior de Agronomia. Publica, juntamente com o professor Francisco Caldeira Cabral, pioneiro da arquitectura paisagista no nosso país, o livro A Árvore em Portugal, que se torna uma obra de referência.
Na Câmara de Lisboa, exerce funções, de 1951 a 1953, na Repartição de Arborização e Jardinagem, passando depois a arquitecto paisagista do Gabinete de Estudos de Urbanização. Mais tarde, dirige o Sector de Planeamento Biofísico e de Espaços Verdes do Fundo de Fomento da Habitação.
Ribeiro Telles é autor de vários projectos que marcaram o tecido verde da capital, como os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, que assinou juntamente com António Viana Barreto, e que venceu o Prémio Valmor de 1975. Mas há muitos outros projectos da sua autoria: Vale de Alcântara e Radial de Benfica, Vale de Chelas, Parque Periférico, Corredor Verde de Monsanto, Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental, Bairro das Estacas (Alvalade), jardins da Capela de São Jerónimo (Restelo), cobertura vegetal da colina do Castelo de São Jorge ou o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII.
Gonçalo Ribeiro Telles deu ainda aulas na Universidade de Évora, na qualidade de professor catedrático convidado, tendo criado as licenciaturas em Arquitectura Paisagista e em Engenharia Biofísica. Em 2013, foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, a mais importante distinção internacional na área da arquitectura paisagista.
Mas a vida de Gonçalo Ribeiro Telles não está apenas ligada à defesa do ambiente e da ecologia, a política teve também um papel muito importante. Desde jovem que teve uma forte intervenção política, tendo-se inicado na Juventude Agrária e Rural Católica, estrutura juvenil ligada à Acção Católica Portuguesa. Após o 25 de Abril de 1974, é um dos fundadores do Partido Popular Monárquico (PPM). Foi sub-secretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos Provisórios, e Secretário de Estado da mesma pasta, no I Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares.
Em 1979, alia-se a Francisco Sá Carneiro na formação da Aliança Democrática, coligação através da qual foi eleito deputado à Assembleia da República nas Legislativas de 1979, 1980 e 1983. Entre 1981 e 1983, integra o VIII Governo Constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão, como Ministro de Estado e da Qualidade de Vida. Durante o seu ministério, cria as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as bases do Plano Director Municipal.
Em 1984, após sair do governo e já afastado do PPM, fundou o Movimento Alfacinha, com o qual se apresentou candidato à Câmara Municipal de Lisboa, conseguindo a eleição como vereador. Em 1985, regressa à Assembleia da República, agora como deputado independente, eleito nas listas do Partido Socialista. Em 1993, fundou o Movimento o Partido da Terra, cuja presidência abandonou em 2007.
Gonçalo Ribeiro Telles, considerado o "pai" da ecologia em Portugal, recebeu recebeu várias condecorações, tendo sido agraciado por três Presidentes (Américo Tomás, Mário Soares e Marcelo Rebelo de Sousa).