TEATRO: Fronteira Fechada (Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, Alverca - até 1 Dezembro)
Texto: Alves Redol (1911 - 1969)
Encenação: Rui Dionísio
Cenografia e Figurinos: Ana Paula Rocha
Criação: Cegada Grupo de Teatro
Elenco: João Cabral, Susana Sá, Marques d'Arede, Elisabete Piecho, Erica Rodrigues, Tó Zé Santos, Fátima Encarnado, Bruna Costa
Sinopse: Meio século após o falecimento do escritor neo-realista Alves Redol, e três décadas depois da queda do muro de Berlim, a companhia Cegada leva ao palco do Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, no concelho de Vila Franca de Xira, uma peça sobre a coragem de quem passa fronteiras clandestinamente - numa procura de intencional à pertinência com os dias de hoje, seja pelo polémico muro do México, as mortes do Mar Mediterrâneo que atormentam a política Europeia, ou outros casos menos mediáticos do mundo contemporâneo.
Inspirada na realidade portuguesa da década de sessenta, a peça revela que muitos homens já se tinham aventurado pela travessia clandestina fugindo do seu país e propõe-se partilhar a realidade das mulheres que os seguem, em busca do sonho de uma vida melhor junto dos que (ainda) julgam seus. Este é o momento histórico em que o autor apoia a sua última peça de teatro, editada postumamente em 1972.
Num abrigo de traficantes (o pai, o filho e um colaborador) passa um grupo de migrantes, cinco mulheres. No primeiro acto apresentam-se ao que vêm e partilham os sonhos que as motivam a colocarem-se, de forma tão vulnerável, sob as regras dos contrabandistas - únicos que, devido à sua actividade profissional, conhecem as fragilidades das autoridades vigilantes, os segredos da montanha, e deles fazem uso a troco de dinheiro. São todas mulheres - o autor faz regularmente uso da ideologia associada à estética neo-realista para expor o ponto de vista do feminino, o papel da Mulher e a sua condição entre os homens na miséria.
O traficante (a personagem com o nome de Velho) é um homem traumatizado pela perda da juventude. Assombrado pela aproximação da morte pela idade decide enriquecer a todo o custo para garantir evitar a miséria na velhice. Permite que todas as migrantes passem, continuem a sua travessia, excepto uma que este dono do negócio impede de continuar caminho, alterando assim a sua condição de migrante para prisioneira.
Ao compreender a sua posição de clausura, esta mulher (nunca definida claramente pelo autor - por se tratar de uma migrante ideológica e a sua indefinição permitir a fuga da obra dramática à censura literária do regime) irá então promover um jogo de sedução e conflito no seio da quadrilha (pai e filho: contrabandistas) até descobrir o caminho secreto que lhe permite a fuga pela montanha e recuperar a liberdade.
Trinta anos depois da queda do muro de Berlim, há quem acredite que fronteiras e vedações, construídas pelo Homem, podem impedir o que nem o Mar nem a Montanha alguma vez conseguiram conter.