De 28 a 30 de Abril, o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, volta a receber os Dias da Música. Cinquenta concertos compõem a programação da edição deste ano, subordinada ao tema "As Letras da Música".
O festival abre com um concerto da Orquestra Sinfónica Metropolitana e do Coro da Fundação Princesa das Astúrias, que interpretam "Ivan, o Terrível", de Prokofiev, a música do filme de Sergei Eisenstein, em versão de Oratória, com arranjos de Abram Stasevich.
Proclamado em 1547, Ivan IV tornou-se o primeiro czar da Rússia. Construiu um império expansionista que centralizava o poder e combatia cruelmente as oligarquias aristocratas, os boiardos. Em particular, a política da Opríchnina, baseada em territórios administrativos que protegiam a coroa, deixaram uma marca sangrenta no seu reinado. Ficou conhecido pelo cognome O Terrível.
Estaline identificava-se com esta figura histórica, por razões que se adivinham. Porém, os filmes que o realizador Eisenstein lhe dedicou exploram, sobretudo, os aspectos morais e psicológicos da sua personalidade. O primeiro, de 1944, tem início com a coroação. Aborda os episódios do seu casamento e as lutas intensas que culminaram na instauração de um regime absolutista. O segundo filme só foi estreado em 1958, já depois das mortes de Eisenstein, Prokofiev e do próprio Estaline. Centra-se nas mais atrozes tramas palacianas que Ivan teve de enfrentar ao longo da governação.
A importância da banda sonora no desenrolar destes filmes é devedora do interesse que Prokofiev dedicou à ópera nos anos 1940. Nunca chegou a publicar as partituras e menos ainda as recuperou numa versão cénica. Foi Abram Stasevich, maestro que havia colaborado na produção do filme, quem assumiu a tarefa. Em formato de Oratória, fez estrear em Abril de 1961, em Moscovo, esta obra magistral, que articula livremente as partes mais substantivas da música original (inalterada) com a declamação de um texto que contextualiza a narrativa.