LETRAS LUSAS: "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas", de José Saramago
Sinopse: Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas , o romance inacabado de José Saramago, encontra-se a partir de hoje nas principais livrarias de Portugal.
Aquando do seu falecimento, em 2010, José Saramago deixou escritas trinta páginas daquele que seria o seu próximo romance; trinta páginas onde já estava esboçado o fio argumental, perfilados os dois protagonistas e, sobretudo, colocadas as perguntas que interessavam à sua permanente e comprometida vocação de agitar consciências.
Saramago escreve a história de Artur Paz Semedo, um homem fascinado por peças de artilharia, empregado numa fábrica de armamento, que leva a cabo uma investigação na sua própria empresa, incitado pela ex-mulher, uma mulher com carácter, pacifista e inteligente. A evolução do pensamento do protagonista permite-nos reflectir sobre o lado mais sujo da política internacional, um mundo de interesses ocultos que subjaz à maior parte dos conflitos bélicos do séc. XX.
Para além dos capítulos escritos por José Saramago, dois outros textos - Um Livro Inacabado, uma Vontade Firme, do poeta e ensaísta espanhol Fernando Gómez Aguilera, e Também Eu Conheci Artur Paz Semedo, um relato-homenagem escrito pelo jornalista italiano Roberto Saviano - situam e comentam as últimas palavras do Prémio Nobel português, cuja força as ilustrações de um outro Nobel, o alemão Gunter Grass, sublinham. O livro apresenta ainda notas retiradas do Caderno de José Saramago (datadas entre 15 de Agosto de 2009 e 22 de Fevereiro de 2010).
A edição italiana chegou às livrarias no passado dia 26 de Agosto e, no Brasil, o romance chega às livrarias no dia 26 de Setembro. No dia 1 de Outubro, os leitores em espanhol (haverá também edição em catalão), na Europa e na América, poderão ficar a conhecer o último livro de José Saramago.
Nota: O título do livro é retirado de um verso de Gil Vicente na tragicomédia Auto da Exortação da Guerra (1514): "Alabardas alabardas/ espingardas espingardas/ nam queirais ser genoeses/ senam muito portugueses/ e morar em casas pardas".
José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga, concelho de Golegã, no Ribatejo. Em 1947, publicou o seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas que, por razões editoriais, viria a sair com o título de Terra do Pecado. Seis anos depois, em 1953, terminaria o romance Claraboia, publicado apenas após a sua morte. No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios Cor, função que conjugaria com a de tradutor, a partir de 1955, e de crítico literário. Regressa à escrita em 1966 com Os Poemas Possíveis. Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e, em Abril de 1975, é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias. No princípio de 1976, instala-se no Lavre para documentar o seu projecto de escrever sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance Levantado do Chão e o modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte, a 18 de Junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de Memorial do Convento a Caim, passando por O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes ou A Viagem do Elefante, obras traduzidas em todo o mundo. No ano de 2007 foi criada, em Lisboa, uma Fundação com o seu nome, que trabalha pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desde 2012, a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos Bicos, em Lisboa. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura em 1998.