Origem: Caldas da Rainha
Ela chama-se Rute Rosa, ele é Sérgio Vieira. Têm os dois 37 anos e são designers. Ela é do Seixal, ele nasceu em Viana do Castelo. Conheceram-se em 1995, na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, para onde foram estudar. Estão juntos desde então. Primeiro criaram a família - são casados - e, em Junho deste ano, lançaram uma empresa - Laboratório d' Estórias - e uma marca - Caldas Portugal.
Com apenas quatro meses de vida e duas peças à venda, a Laboratório d' Estórias tem já uma valente história para contar. O mérito é dos seus mentores, que aliaram o que sabem fazer (design) à tradição das Caldas (a cerâmica) e à cultura popular (cada peça conta uma história de Portugal). A primeira que criaram decorou montras de lojas e mesas de restaurante em Lisboa por alturas do Santo António e já enfeitou o Porto, no São João. Falamos do manjerico de cerâmica, verde ou branco, enfeitado com um cravo de papel e uma quadra de Fernando Pessoa. Quem o comprou também levou para casa uma bela embalagem com a história de "A Medusa e o Manjerico" e sementes da erva-dos-namorados. Rute Rosa explica o conceito do trabalho que quer continuar a desenvolver: «Mais do que uma empresa, o Laboratório d' Estórias é um espaço experimental e multidisciplinar que pretende valorizar e reinterpretar a cultura e as tradições portuguesas. Eu e o Sérgio decidimos fazê-lo através de objectos, que são sempre apresentados com uma história e uma ilustração. Neste contexto, só podíamos recuperar as antigas técnicas de manufactura da cerâmica caldense.»
O mais surpreendente é que tudo isto exigiu um grande trabalho de pesquisa e foi feito num tempo recorde, explica Sérgio Vieira: «Tivemos a ideia para aí em Março, deitámos mãos à obra e, nos primeiros dias de Junho, estávamos em Lisboa à procura de quem quisesse comprar-nos o manjerico.» E quem se interessou pelo manjerico também encomendou A Alfacinha dos Caracóis, uma peça que o casal já tinha desenhado e pensava produzir mais tarde mas que viu o fabrico acelerado. Modelada a partir de uma folha de alface, serve para levar caracóis e outros petiscos à mesa e é vendida numa embalagem que narra e ilustra a história de uma menina de Lisboa que um dia teve de fazer um cerco aos caracóis. No interior, além da peça, que nos remete imediatamente para a louça típica das Caldas, também há dois palitos que podem ser usados para puxar os moluscos terrestres para fora da concha.
A Alfacinha dos Caracóis também nasceu do trabalho conjunto de vários especialistas. E vai ser assim com todas as peças. É deste trabalho de equipa que surgem novos objectos decorativos e funcionais que se têm revelado um sucesso junto dos consumidores: «De um dia para o outro, tínhamos várias lojas a contactar-nos e a querer vender o manjerico. Pensámos que era por causa dos Santos Populares, mas não. A procura continua. E com a Alfacinha está a passar-se o mesmo», afirma Sérgio Vieira.
Entretanto, o casal já tem outros projectos em marcha. Todos em faiança, todos com histórias para contar: «O próximo será um ouriço e é uma taça para comer castanhas. Na embalagem, teremos uma ilustração e uma receita alusiva ao São Martinho», conta a Rute. Antes do Natal também esperam lançar um castiçal feito com nozes, figos ou amêndoas, numa alusão às tradicionais pilhas de fruta da zona Oeste. Em cerâmica das Caldas, claro. E depois haverá mais: «Criámos outras duas peças em faiança. Uma é um corvo, uma ave associada ao conhecimento, à inteligência e à cidade de Lisboa, mas ainda não definimos a história. A outra pretende recuperar os tradicionais apitos de Barcelos e também será um pássaro - um melro e um canário.» Ideias não lhes faltam e, a continuar assim, o Laboratório d' Estórias promete dar que falar.
(retirado do artigo "Cerâmica com histórias dentro" publicado na edição nº 2013 da revista Notícias Magazine)
http://www.laboratoriodestorias.com/