ISTO É PORTUGAL! - Forest Fire Finder
Origem: Lisboa
Para ajudar a apagar o flagelo dos incêndios que todos os anos assola o País, uma tecnologia portuguesa inovadora aprendeu a ler os sinais do fumo e não tira o olho da floresta.
No Verão de 2003, o País foi assolado por uma vaga de incêndios que fez arder perto de 425 mil hectares de floresta. Para fazer frente ao flagelo, João Matos e Pedro Vieira, ambos formados em Física Tecnológica que, três anos antes, haviam fundado a Novas Tecnologias de Robótica e Domótica, propuseram-se desenvolver uma tecnologia de detecção de incêndios assente na espectrometria óptica. Já em 2006, haveriam de fazer renascer das cinzas da antiga empresa a NGNS - Ingenious Solutions, munida do inovador Forest Fire Finder. Em Portugal, o sistema está, desde 2009, instalado no concelho de Ourém, onde, só nesse ano, terão ardido apenas 19,72 hectares, muito aquém dos 678,42 hectares do ano anterior. Em 2012, o grave incêndio que atingiu o concelho terá sido detectado pelo sistema, mas «as condições atmosféricas extremas, com muito calor e pouca humidade» foram determinantes para as proporções que o fogo assumiu, explica João Matos.
Onde há fumo pode nem sempre haver fogo, mas é preciso estar atento. Este é o mote de funcionamento da tecnologia de detecção de incêndios Forest Fire Finder que, através de um complexo sistema de espectrometria óptica e da análise química da atmosfera, reconhece a existência de fumo e automaticamente distingue entre uma nuvem de fumo orgânico (que resulta da queima de árvores), de fumo industrial ou até uma nuvem normal. Depois de identificar a origem do fumo, o sistema lança o alarme de incêndio, num processo que geralmente se desenrola em apenas cinco minutos. Quando percebe que há fogo, esta sentinela electrónica com chancela portuguesa envia alertas via SMS, e através da Internet, para as autoridades responsáveis e para as equipas de combate aos incêndios presentes no terreno, com imagens da coluna de fumo, dados atmosféricos e a localização do incêndio.
Só no primeiro semestre de 2012 ocorreram, em Portugal, 2752 incêndios, o dobro dos valores médios registados na última década (1367 incêndios), segundo o relatório de Acompanhamento e Avaliação dos Impactos da Seca, divulgado pelo Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território. Já a área ardida ascendeu a 20 930 hectares, o triplo da média verificada nesse mesmo período.
1 euro é quanto custa proteger um hectare de floresta com o Forest Fire Finder, por contraponto aos 3 mil euros que é preciso gastar para reflorestar cada hectare perdido. As contas são fáceis de fazer, diz João Matos: «O preço de venda deste sistema ronda os 70 mil euros e ele tem um raio de acção de 15 km que abrange 70 mil hectares, daí o rácio de 1 euro por hectare protegido.» De acordo com o responsável da empresa, bastariam 300 equipamentos para cobrir a totalidade do território nacional, o que permitiria ao Estado poupar 50 milhões de euros por ano em recursos e meios de combate aos incêndios e reflorestação.
A NGNS é ainda responsável pelo desenvolvimento de um sistema, usado em hospitais ingleses, para estudar a síndrome do túnel cárpico (uma doença das mãos associada ao uso prolongado de teclados), de um projecto de um scanner que faz um mapeamento 3D da coluna vertebral e ainda de uma cadeira que corrige automaticamente a postura de quem nela se senta.
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Fogo à vista" publicado na edição nº 1038 da revista VISÃO)