ISTO É PORTUGAL! - Munna
Corset
Origem: Leça do Balio (Matosinhos)
Se pudesse, concebia todos os dias uma marca diferente. É o seu ponto forte. Paula Sousa, 34 anos, sente-se como a contar uma história. Foi assim com a Munna, a marca de mobiliário que criou em 2008, capaz de pegar em objectos e correntes artísticas de outros tempos, do barroco ao manuelino, reinterpretá-los e devolvê-los à actualidade. Uma namoradeira do século passado, símbolo de relações recatadas - olhos nos olhos, mãos nas mãos -, é transformada em peça apologista do slow dating , com nome sugestivo: Yes No Maybe So.
Quando começou a idealizar a Munna, Paula Sousa sabia exactamente o que queria. Enquanto designer de interiores - área na qual se formou, na ESAD, em Matosinhos, e trabalhou durante oito anos -, descobriu uma lacuna no mercado nacional e internacional. Cada vez que ficava encarregada de um projecto de decoração, acabava a desenhar cadeiras, poltronas ou sofás. «As peças que existiam ou eram demasiado clássicas ou demasiado modernas.»
Aos poucos, foi conhecendo os artesãos que, no Norte, fazem este tipo de produtos, desde estofadores a marceneiros. Pequenas oficinas que significam toda a diferença. «Estas tradições acrescentam muito valor a uma peça», diz Paula Sousa. É este trabalho, inteiramente manual, que permite à Munna personalizar facilmente as peças ao gosto do cliente. Ajustam-se medidas, escolhem-se tecidos e acabamentos e, rapidamente, a entrega é feita. «As pessoas podem optar pelos pormenores mais excêntricos.» Foi o caso do músico David Byrne, antigo vocalista dos Talking Heads, que escolheu um veludo especial e uma estrutura folheada a prata para o sofá da sua casa em Inglaterra, o mercado mais forte da marca.
Nos últimos tempos, a Munna ganhou projectos nacionais e internacionais - muitos na área da hotelaria - a grandes marcas, com maior experiência no mercado, exactamente pela oferta e pelos serviços diferenciadores. Em 2011, cresceu mil por cento - números possíveis numa start up , com o volume de negócios a subir de 30 mil euros para 300 mil euros. As exportações representam 90%, com peças espalhadas por 33 países. Não admira que tenha sido alvo do assédio da UK Trade&Investment - agência governamental que actua como um ministro dos Negócios Estrangeiros das empresas a funcionar no Reino Unido -, com convites para transferir a sua sede para território de Sua Majestade. «Seria incapaz de produzir noutro país como produzo em Portugal.», responde Paula Sousa.
Embora não desenhe todas as peças, Paula Sousa é responsável pela direcção criativa das colecções, acompanhando o design desde o conceito à prototipagem. Na edição limitada da Munna Dress Me, 12 designers portugueses são convidados a reinterpretar peças da colecção e a imprimir-lhes o seu cunho pessoal. Uma oferta a pensar no nicho de mercado de coleccionadores e galerias, em que cadeiras como a criada pela designer de jóias Susana Martins, com as costas revestidas a filigrana, atingem os 36 mil euros.
Foi também pioneira na forma como apresenta os seus produtos, com fotografias que lhe têm garantido capas e páginas em revistas internacionais de decoração. «Outras marcas optam por criar ambientes [uma sala, por exemplo], onde colocam as suas peças. Nós quisemos contar uma história e deixar que o cliente imaginasse inúmeros caminhos.» É uma espécie de Alice no Mundo das Marcas, a correr atrás de um coelhinho branco apressado.
(retirado do artigo "Dizer «eureka!» em português" publicado na edição nº 1007 da revista VISÃO)
http://www.munnadesign.com/en/home
Monsieur T
Rose