ISTO É PORTUGAL! - Lápis Viarco
Origem: São João da Madeira
Esta é "a fábrica de lápis mais pequena do mundo", diz José Vieira, um dos sócios. Os seus lápis apelam ao imaginário de todos os portugueses.
Num mercado feroz, a Viarco atravessa momentos difíceis mas tem resistido e, no campeonato das referências afectivas, vai em primeiro lugar. Muitos portugueses fizeram os seus primeiros desenhos com este lápis. E é aqui que a empresa joga os seus trunfos: trabalhar as memórias das novas gerações, manter a fábrica a funcionar e apostar em produtos de uso artístico.
Tudo começa em 1919 com o bisavô de José Vieira, num regime de excepção, gozando de várias medidas proteccionistas. Dez anos depois, a empresa enfrenta dificuldades. Safa-se da falência por pouco e é registada como Vieira & Araújo e Cia. Lda em 1936. Sai de Vila do Conde e instala-se em São João da Madeira, onde se encontra ainda hoje, numa antiga fábrica de chapéus. Os lápis que aqui se produzem atravessaram guerras, ditaduras e a adesão à União Europeia (e, com ela, a chegada de lápis de todas as partes do mundo). Hoje é a única fábrica de lápis portuguesa e ibérica.
José Vieira avança pelas instalações da Viarco, sítio sem luxos nem modernices onde trabalham vinte pessoas. Entrar na fábrica é como fazer uma viagem ao tempo da Revolução Industrial e aos complexos fabris que os livros de História descrevem. As máquinas mais recentes datam dos anos 70.
A Viarco está a fazer um percurso totalmente vocacionado para o produto especial. "Nos espaços vazios criámos ateliês para jovens artistas onde eles podem desenvolver as suas actividades e, ao mesmo tempo, recolher informação (sobre o que faz falta aos criadores)", explica. Foi assim que nasceram alguns dos mais recentes produtos Viarco, como a aguarela de grafite (lembrança do pintor José Emídio) ou o bastão artesanal de grafite que se tem revelado um dos maiores êxitos da Viarco e que foi sugerido pelo artista Isaque Pinheiro.
O mercado externo é outra prioridade. A Viarco já vende para França, Alemanha, Inglaterra, Itália e, recentemente, Estados Unidos. A exportação representa 15% do volume total de vendas e uma saída para a empresa.
José Vieira orgulha-se de poder fazer lápis de todas as cores e feitios, entre outras razões porque tem uma máquina de moldagem, exemplar 100% mecânico e que, calcula, remonta ao fim do século XIX. "As máquinas modernas não têm esta versatilidade." E se para uma empresa grande produzir cinco mil lápis de merchandising não tem interesse, na Viarco podem fazê-los com graça e a tempo.
Pela linha de montagem alinham-se os mais variados tipos de lápis: pequenos e finíssimos que vão seguir para Inglaterra e serão acessório de agendas, azuis com o símbolo de um banco português, em forma oval para carpinteiros ou a versão humorística do lápis com uma afia na ponta para o POP - Projectos Originais Portugueses, que aconteceu no Museu de Serralves, no Porto, em Julho de 2011. Outra brincadeira: o lápis que não escreve, o Dummy Pencil. Estes projectos servem para promover a indústria como criativa.
E quando fala em projectos com valor acrescentado, José Vieira gosta sempre de falar do ColorAdd, um código de cor criado por Miguel Neiva para daltónicos que é usado na fábrica: lápis normais com um código para cada cor. "É um projecto inclusivo e transversal a todas as crianças."
(retirado do artigo 1000 Motivos do Nosso Orgulho publicado na 1000ª edição da revista Notícias Magazine)