ISTO É PORTUGAL! - Pranchas de surf Micasurfboards
Origem: Ericeira (Mafra)
Porque o surf é a praia dele, ou não tivesse nascido em São Lourenço, na Ericeira, o shaper que talha pranchas à medida tem nome e marca com tradição no mar.
Foi mecânico, por amor ao mar, diz que trabalha as pranchas "como um carpinteiro", mas parece mais um alfaiate, moldando-as à medida das ondas e do perfil dos clientes. Aos 38 anos, Amílcar Lourenço - Mica, para a família, para os amigos e para a comunidade do surf, dentro e fora de Portugal - deixa a marca que criou ir na mesma corrente que o tem guiado, enquanto surfista. Habituado a tratar por tu a elite mundial da modalidade, o shaper português faz questão de conhecer "ao milímetro" as necessidades de quem encomenda as suas pranchas. "Se o cliente for honesto comigo", explica, "assumindo, para além das suas características pessoais, os reais anos que tem de surf e o verdadeiro número de vezes que pratica por mês e em que praias, consigo dizer-lhe do que precisa."
Foi no areal da praia de São Lourenço, na Ericeira, que despertou a paixão de Mica pelo mar, pelo surf e pelas pranchas, nesta mesma ordem. Primeiro, foi o Atlântico, que se acostumou a espreitar da casa e do bar da praia dos pais. Depois, veio o despertar para o desporto cuja prática a família não podia suportar, nem via com bons olhos. Com 15 anos, sem os pais saberem, abandonou a escola para trabalhar numa oficina de automóveis e "juntar dinheiro para comprar uma prancha". Uma onda de sorte levou-o a cruzar-se com um cliente que lhe abriria as portas do surf e da profissão: Nick Uricchio, um dos patrões da Semente, a "gigante" portuguesa das pranchas de surf, que o convidou a trabalhar com ele. Em 2005, no mesmo ano em que abandonou a carreira desportiva nacional e internacional, o shaper, então com 31 anos, transforma a Micasurfboards num negócio, sempre conservando a amizade e a convivência saudável com a Semente, à qual garante "não roubar clientes". A estreia no fabrico de pranchas em nome próprio também não podia ter tido outros "padrinhos" que não os irmãos Pires: Tiago - ou Saca -, o primeiro português a integrar a elite do surf mundial, e Ricardo.
Tudo começa com uma "conversa" com o cliente, presencialmente ou pela internet - já que 80% das encomendas vêm do estrangeiro -, seguida pelo desenho da prancha, através de um programa de computador. Uma vez dada a luz verde pelo cliente, o shaper corta a prancha numa máquina própria e molda-a à mão. Depois, é a vez da pintura, feita por um pintor português da confiança de Mica, e a prancha regressa às mãos do antigo atleta que faz a fibragem com fibra de vidro e aplica a resina líquida. O último processo, o da lixagem, também é subcontratado a um artesão português. Por fim, a prancha está pronta a ir para a água.
O desenho e a mão-de-obra têm selo nacional. Os blocos de foam - a espuma rígida que serve de base às pranchas - vem da Austrália e dos EUA, tal como a resina. A fibra de vidro, comprada em Portugal, também tem origem norte-americana. Portuguesas são as lixas, da Lamidiscos - famosas em todo o mundo, por serem produzidas especificamente para esta indústria -, os logótipos, os autocolantes, as fitas de papel e as tintas à base de água.
No ano passado, foram vendidas 200 pranchas, de um total de 703 lançadas ao mar, desde 2005. Uma "tábua" - como também se diz na gíria - com chancela Micasurfboards pode custar, em média, 370 euros. Para além do core business, a marca produz ainda algumas peças de roupa, mas apenas "como brinde, para divulgar as pranchas".
O ano de 2011 foi de ouro sobre o azul do mar da Ericeira, eleita Reserva Mundial de Surf, pela ONG norte-americana Save the Waves. Os quatro quilómetros de costa que se estendem da Pedra Branca a São Lourenço são os primeiros da Europa a entrar para este lote exclusivo do qual constam apenas mais duas zonas protegidas: Manly Beach, na Austrália, e Santa Cruz, nos Estados Unidos.
Apesar de já ter deslizado pelas mais afamadas praias de todo o mundo, Mica regressa sempre a casa. E não é só por saudades. "As melhores ondas estão em Portugal, não há dúvida.", defende. "Filho" da Ericeira escolhe, porém, a Madeira como o melhor spot, "com ondas incríveis e quase sem ninguém".
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Mica à beira-mar" publicado na edição nº 991 da revista VISÃO)
http://www.micasurfboards.com/