ISTO É PORTUGAL! - Edições Chifre
Origem: Lisboa
Na arena musical portuguesa, quatro amigos com ideais acutilantes aproveitaram uma primavera lisboeta para lançar uma editora revolucionária que pega a independência pelo Chifre.
São pequenos, mas não se põem em bicos dos pés. Enfrentam adversidades, mas "não se queixam". E fazem questão de se opor às estocadas do sistema, mas sem atacar ninguém, pese embora o prenúncio do nome. Francisco Santos Silva, Marta Moiteiro, Pedro da Rosa e Vanda Noronha são os "chifrudos" de serviço (na melhor acepção do termo) que, "com pouco dinheiro", "muitas ideias" e um toque de irreverência, unidos pelo fio condutor da "boa música", fundaram a Chifre, uma "loja de arte independente", com uma editora, uma produtora, uma distribuidora e uma agência de management e comunicação dentro, que rompeu numa primaveril madrugada de 2010. Pouco mais de um ano depois, em Julho de 2011, com um concerto inaugural no MusicBox, em Lisboa, já faziam ecoar o seu próprio "grito do Ipiranga": independência... ou silêncio.
Os quatro amigos, mais dois que, entretanto, já abandonaram o projecto, uniram-se na missão de "espalhar a obra dos artistas" que representam "pela terra inteira". Como um Chifre que não fere, mas cuida, comprometem-se a ajudar, "se a obra merecer". Talvez por isso, para além da edição, produção, management e coaching, Francisco, Marta, Pedro e Vanda tomem ainda nas mãos as boleias, a entrega de instrumentos, o aconselhamento e até o baby-sitting, admitem entre risos. Como uma "grande família" unida... pelo Chifre.
O nome emergiu de uma lista de mais de meia centena, logo após uma amiga comum ter avançado com a sugestão "cornos" que, de imediato, passou a "chifre", por causa da "ligação ao rock". O gesto que expressa a identidade da editora e o logótipo com as chavetas que dão corpo à marca não se fizeram esperar, nascendo da imaginação de Vanda Noronha, "passados 10 minutos de o nome estar escolhido".
Mais incisivo do que o próprio nome é o manifesto: "O facto de serem um bocado pelintras", dizem, ajudou-os a ser "inventivos" e seguir em busca da harmonia perfeita entre "bons produtos" e bons preços. Em vez de mandar fazer os CD numa fábrica, contrataram uma agência de produção gráfica que se encarrega de negociar orçamentos com várias gráficas, criaram o protótipo de capa com as ranhuras para o CD e o livrete em forma das emblemáticas chavetas e encarregaram-se de verificar os artigos "um a um". Só o modelo de CD, semelhante a um vinil, é importado de uma empresa com armazéns em Vigo: as capas, encomendadas a uma editora em Lisboa, as bolsas de plástico, cortadas no Norte, e os materiais totalmente recicláveis têm todos cunho luso.
Os quatro elementos da editora afirmam-se "bastante selectivos", e até chatos, não se comprometendo com nenhum músico ou banda até os escutar ao vivo. Com pouco mais de meio ano de vida, a Chifre já tem cinco entradas portuguesas no seu "catálogo de pérolas": Diego Armés, que trocou o frenesim dos Feromona pela dolência acústica em tom confessional; David Pires, que pendura as baquetas da bateria d'Os Pontos Negros para abraçar o microfone a solo; o pop rock acelerado dos Capitão Fausto, no dorso da sua Gazela (disco de estreia); a promessa cumprida, com dez anos de história, dos TV Rural (com disco para Março) e, ainda, o assalto impiedoso da Armada, com rock da pesada. Pelo caminho ficam "quase 90% das propostas" que lhes entram pela porta.
Os CD com chancela da Chifre, que rondam os 10 euros, podem ser comprados na cadeia de lojas FNAC espalhadas pelo país, através da loja online da editora ou em banca, nos dias de concerto. Brevemente, estarão também disponíveis em alguns pontos de venda tradicionais de Lisboa e do Porto. Independente no perfil e nos modelos de negócio que quer ajudar a repensar, o quarteto de jovens empreendedores não vê nos downloads de música na Internet uma ameaça, nem se alista em cruzadas contra a pirataria online, já que a web é a teia ideal para espalhar o nome dos artistas onde a distribuição física nem sempre tem sucesso.
Querendo fazer-se ouvir do outro lado do Atlântico, a Chifre planeia já a expansão para o Brasil, onde se começa a notar "mais abertura à música portuguesa", confidencia Vanda Noronha.
Para além de dar música ao público português, a editora indie é ainda responsável pela produção de merchandising e design. No futuro, o canto é outro: no horizonte, está já a edição de livros e filmes.
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Com música na edição" publicado na edição nº 988 da revista VISÃO)