ISTO É PORTUGAL! - Mima House
Origem: Viana do Castelo
Entre a Suíça e Viana do Castelo, dois arquitectos portugueses fazem furor com a Mima House, um sistema pré-fabricado que criaram. Já há centenas de interessados, do Brasil aos EUA.
Se, ao ler este texto, lhe vierem à mente os móveis da sueca IKEA, os autores da Mima House não ficarão ofendidos. Bem pelo contrário - tomam por elogio a comparação. "A marca representou uma viragem histórica ao democratizar o design. Não nos importaríamos de ter esse papel na arquitectura." O sonho é partilhado, em tom divertido, por Marta Brandão, 26 anos, e Mário Sousa, 27, via Skype. São eles os autores da casa que tem dado que escrever em sites e revistas de design, arquitectura e economia. Motivo? Revolucionaram o conceito de pré-fabricado, combinando estética, funcionalidade e hipótese de personalização, por menos de 50 mil euros.
O projecto foi ganhando forma entre a Suíça, onde trabalham, e Portugal. Marta está em Basileia, com os Pritzker Jacques Herzog e Pierre de Meuron, Mário em Lausanne, no ateliê Richter-Dahl Rocha & Associés, mas ambos se formaram por cá. Não é apenas o facto de serem namorados que os une. Partilham a paixão pela arquitectura e os horizontes amplos, como os que se têm do Monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, de onde são naturais. Quando, em 2008, passaram a dedicar o tempo livre à casa Mima, acreditaram que esta se materializaria um dia pelo mundo. "A ideia-base era tornar a arquitectura acessível a todos", recorda Marta. Os textos que andavam a ler, dos fundadores do movimento moderno, forneceram pistas. Walter Gropius dizia-lhes: "No futuro, cada pessoa terá a possibilidade de encomendar directamente a um armazém a casa ideal." Le Corbusier desafiava-os: "Olhem para a questão (da habitação) a partir de um ângulo objectivo e crítico e inevitavelmente chegarão à Casa-Máquina." A Mima não andará muito longe desse conceito do arquitecto suíço, de "uma casa produzida em massa", "saudável", "bonita".
Os primeiros rabiscos partiram da ideia "um bocado amalucada", segundo Mário, "de fazer uma casa que se mudava toda". A arquitectura tradicional japonesa serviu-lhes de inspiração. Mesmo conhecendo os tabus que rodeiam estas construções, arriscaram. O desejo de democratização da casa, porém, só ficaria completo se conseguissem levar o cliente a intervir no processo criativo e construtivo. Imaginaram, então, a figura do "arquitecto virtual": o cliente, que teria à disposição uma plataforma online. É aí que entra o engenheiro informático Miguel Matos, que programou o site e desenvolveu a tecnologia 3D que permite combinar as ferramentas Mima e adaptar a casa ao seu gosto e necessidades. A capacidade de adaptação da construção não se esgota nessa etapa. O sistema, do tipo puzzle, permite adaptações contínuas, mesmo depois de a casa estar concluída.
A planta pode ser definida a cada momento. A grelha com calhas metálicas no chão e no tecto permite encaixar paredes em poucos segundos. A cozinha e a casa-de-banho podem ter diferentes localizações dentro de casa. A casa tem 36m2 de área livre. As paredes fazem-se recorrendo a painéis de madeira, que podem ter faces com cores diferentes. Está a ser estudada a colaboração com artistas plásticos para criarem padrões para cada módulo.
Os materiais do chão e do tecto podem ser decididos pelo cliente e, também eles, podem ser trocados. Periodicamente, surgirão catálogos com um vasto leque de hipóteses estilísticas e formais. Todos os módulos (paredes, chão, tecto) são painéis com metro e meio de largura para encaixarem nas calhas. Os acabamentos variam. A fachada-base é em vidro mas, adicionando painéis, pode-se facilmente aumentar o número de paredes fechadas. Também no exterior é possível variar a cor do revestimento.
Quando as fotografias da Mima House, tiradas por José Campos, chegaram aos sites especializados, os jovens arquitectos perderam o controlo da informação. Ainda o site não estava pronto, nem o vídeo promocional terminado, e já os e-mails caíam às centenas, de potenciais clientes do Brasil, Chile, Canadá, Estados Unidos, Índia...
As solicitações obrigaram a dupla a reformular o projecto. "Para cumprir o sonho de tornar a Mima num ícone global, tínhamos uma lacuna a nível do transporte." O novo protótipo que está a ser construído no Porto, numa fábrica com implantação internacional, também poderá ser transportado em contentores marítimos. Fabricar a casa noutros países está fora dos planos. "As empresas portuguesas têm muita qualidade e a nossa economia deve ser ajudada", defendem.
Dedicarem-se em exclusivo à Mima parece ser uma forte hipótese que os poderá conduzir de novo a Portugal. Por enquanto, viajam uma vez por mês para acompanhar a produção e já estão a formar localmente uma equipa de arquitectos, designers, informáticos e especialistas em comunicação. Mário e Marta já estão a desenvolver linhas de vestuário e mobiliário Mima, novas casas com diferentes formas de agregação dos módulos, um catálogo de padrões para as paredes. Para primeiro projecto, não se saíram nada mal.
(retirado do artigo "Uma casa para todos" publicado na edição nº985 da revista VISÃO)