ISTO É PORTUGAL! - Arcádia
Origem: Porto
Das prateleiras do balcão sobressaem as cores do universo de chocolates e amêndoas mais antigo do Porto, Arcádia. Ao fundo, a porta abre-se para a fábrica, na qual se mantém a produção artesanal. No edifício da Rua do Almada há ainda espaço para os escritórios onde dois irmãos trabalham para conseguir levar a marca de família ao resto do País. Acredite-se. Já não é preciso ir ao Porto para comprar as históricas línguas-de-gato ou as amêndoas de licor Bonjour.
No ano em que um grupo de professores de Direito, coordenado por Salazar, apresentava o novo texto da Constituição, em 1933, Manuel Pereira Bastos abria na Praça da Liberdade, no Porto, a confeitaria que se iria tornar um ícone da cidade. As línguas-de-gato de chocolate e as amêndoas tornar-se-iam motivo para todos os visitantes da cidade não saírem de lá sem uma caixa. O local era ainda destino preferido da alta sociedade. Os anos passaram e o negócio foi-se mantendo em família. Com a morte de Manuel, o negócio passou para o filho, pai de Margarida e João. Os dois lembram-se de ser ainda crianças e receber todos os dias em casa uma caixa com bolos da Arcádia. Guidinha, como era então chamada, dispensava. O irmão Joãozinho não hesitava comer dois ou três, até que a adolescência o alertou para o peso. Foi também por esta altura que os dois começaram a conhecer os cantos à casa e a ajudar em períodos de férias. Natal e Páscoa eram momentos prósperos para o negócio. Foi assim até a concorrência permitir.
Há quase 12 anos, em 2000, a antiga confeitaria acaba mesmo por ser encerrada. Mas sem um verdadeiro ponto final. Passa apenas a produzir os produtos tradicionais: sortido, línguas-de-gato e amêndoas de licor. Um ano depois, com a morte do pai, João e Margarida tomam conta do negócio. Ela deixa para trás o trabalho em Análises Químicas, conseguido depois de uma licenciatura em Farmácia. E ele, 25 anos de experiência ao serviço do Grupo SONAE.
Começaram com um quiosque por altura da Páscoa e do Natal no NorteShopping (Matosinhos), em 2003. O sucesso ditou que permanecessem abertos o ano inteiro. A falta de condições foi um trampolim para a abertura da primeira loja (em 2005), enquanto outros quiosques abriam no Porto, Braga, Coimbra e em Lisboa. Em 2007, recordam os dois irmãos, a Arcádia estava novamente na rua, com uma loja na Avenida da Boavista, no Porto, e uma oferta mais variada (scones, crepes, chocolate quente, saladas). Seguiu-se uma loja só de chocolates no Picoas Plaza, em Lisboa, depois substituída por outra no Dolce Vita Tejo, na Amadora. Mas os dois sócios perceberam que o conceito funcionava melhor na rua. Prova disso foram as lojas que abriram já nestes últimos dois anos, na Avenida de Roma e em Campo de Ourique, em Lisboa. A ideia dos gerentes da Arcádia é de expansão, com a abertura de duas lojas franquiadas em Guimarães e em Braga. Segue-se o resto do mundo. Sempre sob a máxima de manter a tradição. É aí que está a diferença.
(retirado de DEZEMBRO:MÊS DAS MARCAS - "Artesãos dos chocolates fazem crescer negócio de família", no Diário de Notícias)