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Origem: São Cláudio de Barco - Caldas das Taipas (Guimarães)
«Há 100 anos à mesa dos portugueses, a marca que nasceu nas margens de um afluente do rio Ave, onde os romanos foram a banhos, exporta para mais de 50 países e já pôs os chineses de olhos no talher.
A margem direita de um afluente do rio Ave foi terreno fértil para Manuel Marques montar, em 1911, um negócio de cutelaria que já talhou o destino de quatro gerações. A marca 11 serviu para cunhar as primeiras facas de mesa, que, ao jeito da época, recebiam o carimbo do ano de nascimento. As facas eram amoladas com a força das pás hidráulicas de um pequeno moinho e o negócio foi-se estendendo pelos limites do quintal e da casa do fundador, até ao início da década de 60. Com a morte do patriarca, em 1963, os filhos mais novos, Abel e José, tomaram as rédeas da empresa que renasceria com o apelido de Herdmar, em nome dos herdeiros de Manuel Marques. Beneficiando das propriedades termais das águas das Caldas das Taipas, que até os romanos apreciaram e ajudam a temperar o aço, a Herdmar herdou ainda a tradição cuteleira vimaranense formada no leito de morte da indústria de armas. Acabada de celebrar o 100º aniversário, arma-se agora face à concorrência chinesa e turca, com quatro netos e um bisneto de Manuel Marques ao leme.
Talheres e utensílios de cozinha em aço inox e aço 18/10. Nos faqueiros da Herdmar podem encontrar-se talheres revestidos a ouro, titânio, diversas cores nas quais o preto, o chocolate, o violeta e o azul são as grandes novidades e até com exclusivos cristais Swarovski. O aço é importado à francesa APERAM - propriedade do magnata indiano Lakshmi Mittal, 6º na lista dos 10 mais ricos do mundo da Forbes e líder da ArcelorMittal, maior produtora mundial de aço. A principal matéria-prima dos produtos Herdmar é arrecadada em bobines de uma tonelada e cortada pelas tesouras especiais da fábrica, ímpares no País. As restantes matérias-primas têm origem em países da União Europeia. Apenas por "falta de alternativa" no território nacional, faz questão de sublinhar Maria José Marques Castro, a directora comercial para o mercado externo da empresa vimaranense. No entanto, "75% dos materiais envolvidos no fabrico dos nossos produtos, embalagem incluída, são de origem nacional", esclarece. Exemplo disso são os cabos em madeira, osso ou chifre, este último comercializado por um fabricante da zona e com bastante procura no mercado norte-americano.
A criatividade também tem selo nacional: a direcção criativa pertence a Miguel Teixeira, o designer para todo o corte, e Mário Marques, director de produção e outro dos herdeiros do fundador. Madura na idade, a Herdmar é uma empresa verde no respeito pelo meio ambiente. Assim o prova a construção de uma ETAR própria, para tratamento das águas residuais após o processo de tempero do aço, e a instalação de um sistema de despoeiramento.
A Herdmar não tem lojas próprias nem vende directamente ao público, metendo a colher no mercado nacional através de uma rede de armazenistas e distribuidores. Apesar de, mais recentemente, se ter empenhado em sentar-se à mesa com os consumidores domésticos nacionais, a marca centenária teve sempre os sectores da restauração e da hotelaria como clientes preferenciais. São 140 000 as peças que saem todos os dias da forja na fábrica da Herdmar, contando com o contributo dos 110 trabalhadores, que se revezam entre as tarefas administrativas e o acompanhamento dos processos nas fases de corte, soldadura dos metais, design e embalamento.
Para conquistar terreno fora de portas, a Herdmar firmou parceria com a Silampos (de acessórios de cozinha, que produziu a primeira panela de pressão em Portugal), a Porcel (cerâmicas) e a Ivo Cutelaria (cutelaria e acessórios de cozinha). Estas quatro insígnias lusas organizam feiras, reuniões e viagens de negócios, levando a cozinha portuguesa aos quatro cantos do mundo. Maison&Objet, em Paris, Decorex, em Joanesburgo, Interior Life Style, em Xangai, e Tabletop, em Nova Iorque, são algumas das feiras internacionais em cujas vitrinas a Herdmar se mostrou, em 2011. Os 10 principais mercados de exportação da Herdmar, em 2010, foram, por ordem de importância: Espanha, Inglaterra, Rússia, Brasil, França, México, Grécia, Finlândia, Venezuela e Líbano. »
(retirado do artigo "Portugal faz bem - A cortar desde 1911" publicado na edição nº 976 da revista VISÃO)
«Nas paredes do showroom da Herdmar há um quadro com uma foto de José Marques e um conselho do patriarca, gestor da empresa: dividam-se as tarefas difíceis. Exactamente o que ele fez quando chegou a hora de passar o testemunho aos filhos. Teve sete, quatro estão na empresa. São a 3ª geração Marques à frente desta marca de cutelaria da região das Taipas, Guimarães. Maria José trata das exportações e foi mandada, pelo pai, estudar Relações Internacionais e aprender línguas; Mário está na produção, Abel encarrega-se da logística e José Avelino é o financeiro.
A Herdmar vem de um ano excepcionalmente positivo com uma facturação de cerca de 7,5 milhões, mais 2,5 do que é habitual. A viragem aconteceu a 23 de Dezembro de 2009. Nesse dia, a Herdmar foi chamada a Arteixo, pequena localidade da Galiza (Espanha) onde se encontra a sede da Inditex, para uma reunião. Maria José e Mário Marques saíram de São Cláudio de Barco, Caldas das Taipas, de madrugada - para poderem voltar a tempo dos habituais cumprimentos de Natal aos empregados. Quando chegaram lá, a Inditex propôs-lhes que produzissem, em exclusivo, um faqueiro distribuído por todas as lojas Zara Home. Em seis meses, fizeram 251 500 peças para os cerca de 10 500 faqueiros de 24 peças cada um. Tamanha encomenda exigiu esforço adicional e foram contratadas mais 40 pessoas.
Portugal é hoje o maior produtor europeu de cutelaria, o que não tranquiliza nem dá razões para o país se sentir orgulhoso já que ganha onde todos os outros já desistiram. O sector não emprega mais de 2000 pessoas, dizem os irmãos Marques. Desses, 115 trabalham na Herdmar (alguns com 18 anos de casa). "Toda a Europa deslocalizou a produção", confirma Maria José Marques. Enfrentam a concorrência feroz da China.
A Herdmar vende a sua própria marca e fornece outras. Produz 140 mil peças por ano (qualquer coisa entre 2 e 3 mil por dia). No showroom, primeiro andar da fábrica, há os talheres pretos, azuis e lilases (alguns deles muito populares no Médio Oriente), uma das conquistas da fábrica, usando uma tecnologia que, até agora, só estava disponível em bicicletas e que se provou nesta fábrica, com dois anos de investigação, poder estar em contacto com seres humanos e alimentos. Por acidente, acharam o talher com reflexos arco-íris. Outro desenho popular são os talheres compridos e finos, ideais para os japoneses "que gostam de sair e comer como os ocidentais", explica Maria José Marques, mostrando também o serviço Century, desenhado pelo designer inglês Robin Levien. Por ser especial, esta linha está patenteada. »
(retirado da reportagem 1000 Motivos do nosso Orgulho publicada na 1000ª edição da revista Notícias Magazine)
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