ISTO É PORTUGAL! - Almofada de caroço de cereja Ricoxete
Origem: Caxias (Oeiras)
«Almofada com caroços de cereja no interior, 100% natural, feita à mão em Portugal, com conhecidos benefícios nas dores musculares, relaxamento, etc.»
(retirado da reportagem 1000 Motivos do nosso Orgulho publicada na 1000ª edição da revista Notícias Magazine)
«José Miguel Amorim, 46 anos, fundador, criativo, responsável pelos transportes, armazenista e director da Ricoxete pode não saber por onde vai, mas sabe que, "se não for por aqui", vai "por ali". Foi esse ideal de liberdade de movimentos que o levou a abdicar do subsídio de desemprego, depois de abortada a experiência como formador de condução defensiva, para apostar numa ideia que a mãe trouxe de uma viagem pela Europa e que lhe chegou como uma brincadeira de crianças. Primeiro, foi preciso que José Miguel e o irmão comessem, durante dois anos, 20 quilos de cerejas, para que se reunissem os caroços necessários para compor uma única almofada. Depois, "foi vendo que os meus filhos disputavam a almofada de caroços de cereja feita pela minha mãe que me apercebi do potencial disto", recorda. Hoje, é com orgulho que fala dos frutos e dos filhos, Maria, de 13 anos, autora do texto - uma redacção da escola - O Jardim das Cerejeiras que acompanha cada uma das almofadas vendidas e Manuel, de 10, a quem também já germina o gosto pelo negócio.
Almofada natural, biodegradável, hipoalergénica e lavável com dimensões de 25 por 14,5 centímetros, de tecido 100% algodão, fabricado no Norte do País, contendo cerca de 350 gramas de caroços de cereja importados de Espanha, apenas porque, em Portugal, "não há fábricas de transformação deste produto", sublinha José Miguel Amorim, alfa e ómega da Ricoxete. As linhas com que se cose este género de saco com propriedades térmicas, quando aquecido, também têm sotaque nortenho, tal como as etiquetas, impressas com tinta alimentar, "para que não haja nenhum produto potencialmente tóxico envolvido". As almofadas, e as embalagens de cartão produzidas numa fábrica em Odivelas, carregam consigo o cunho criativo do próprio empresário, que já foi designer gráfico nos jornais Público e Correio da Manhã, actor e formador de condução defensiva, antes de se dedicar à Ricoxete, com alma e caroço.
Os caroços de cereja são lavados e tratados pelos reclusos do Estabelecimento Prisional de Sintra, com a ajuda de uma betoneira, onde se juntam apenas água e brita, sem adição de produtos químicos, e secos pela acção natural do sol e do vento. Já as almofadas são cosidas pelas reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires, a quem a Ricoxete forneceu duas máquinas de costura. Os trabalhos são pagos à tarefa, tendo como referência o salário mínimo nacional e os proventos das vendas divididos com os reclusos.
Desde que nasceu, em 2007, a Ricoxete já produziu 10 mil almofadas de caroço de cereja. As vendas são feitas através do site da empresa na Internet e cada almofada custa 22,50 euros. O bolo dos lucros é dividido, em percentagem, com os reclusos dos estabelecimentos prisionais envolvidos no projecto. Para plantar a semente de um produto que cresce cá dentro e já se vende lá fora - embora ainda somente a "clientes individuais", nota José Miguel Amorim, por toda a Europa, na Rússia e no Brasil - o empresário investiu 3600 euros para importar dez toneladas de caroços de cereja.
As almofadas de caroço de cereja da Ricoxete - que devem ser aquecidas no micro-ondas, entre um a dois minutos, na potência máxima - conquistaram o segundo prémio no Festival de Inovação, em Tallin, na Estónia, na categoria de ideias mais inovadoras. Quem conta um conto acrescenta um ponto. No caso da espécie de bula esboçada pelo punho de José Miguel Amorim, que acompanha a embalagem das almofadas de caroço de cereja, os pontos de aplicações terapêuticas têm-se somado com os contributos de muitos clientes, que vão transmitindo as suas experiências. Para além do aquecimento corporal indicado em todas as idades, o efeito térmico "confortável e relaxante" pode servir para acalmar dores abdominais, lombares, cervicais, musculares, entorses, tendinites e até para aliviar as cólicas dos bebés.
Mais madura, cinco anos após o nascimento, a empresa aposta agora na produção de almofadas de caroço de oliveira. O fruto da vontade de produzir em português é o Oliveira, uma almofada em formato de boneco para crianças, em cuja barriga se guardam caroços de azeitona portuguesa, "alentejana de gema". O lançamento no mercado, que está para breve, não se deixou atrasar pelo tempo que demora a limpar e a tratar a matéria-prima: os altos índices de oleosidade do caroço ditam que tenha de esperar um ano, ao sol, à chuva, ao vento e à mercê "dos bichinhos" que lhe sulcam os vestígios da polpa da azeitona.»
(retirado do artigo "Portugal faz bem - Cerejeiras sem dor" publicado na edição nº 975 da revista VISÃO)