Faleceu hoje, aos 93 anos, o pintor Júlio Resende. Nascido no Porto, a 23 de Outubro de 1917, frequentou as Escolas de Belas Artes do Porto e de Paris e iniciou a sua actividade artística como ilustrador em semanários infantis e na imprensa diária, quando era ainda um jovem.
Em 1946, ano em que apresenta a sua primeira exposição em Lisboa, obteve uma bolsa de estudo do Instituto para a Alta Cultura, que o leva a Paris e Madrid, onde teve contacto com as obras de Picasso e Goya, cidades que o despertam para a pintura abstraccionista. Em 1951, regressa ao Porto e dedica-se à arte e ao ensino. Nesta época, o tema principal da sua pintura é a gente do mar. A sua obra foi apresentada em exposições individuais em países como Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil. Foi, várias vezes, representante de Portugal em exposições colectivas nas Bienais de Veneza, Ohio, Londres, Paris e São Paulo, tendo-se destacado nesta última, em 1951, quando venceu o Prémio Especial da Bienal. Em 1959, na mesma Bienal, recebe uma Menção Honrosa, e, em 1969, vence o Prémio Artes Gráficas na Bienal de Artes de São Paulo, com ilustrações do romance "Aparição". Ao longo da sua carreira, recebeu vários prémios como o Prémio Nacional de Pintura da Academia de Belas Artes, o Prémio Armando Basto, Prémio Souza-Cardoso, Medalha de Prata na Exposição Internacional de Bruxelas, entre outros.
Nos anos 1960, Júlio Resende interessa-se por projectos de decoração e arquitectura, tendo colaborado na decoração do Palácio da Justiça de Lisboa, com a realização de seis painéis em grés. No Porto, criou dois painéis cerâmicos para o Hospital de São João e o painel de azulejos "Ribeira Negra" que pode ser visto à saída do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I.
Júlio Resende foi nomeado, em 1972, Membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas Artes Belgas. Em 1982, recebeu as insígnias de Comendador de Mérito Civil de Espanha, atribuídas pelo Rei de Espanha, e, em 1985, foi distinguido, em Portugal, com o Prémio AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte). Recebeu ainda a Medalha de Ouro da Cidade do Porto e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entre outras distinções.
A sua obra está representada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Helsínquia (Finlândia), Museu Aalesund Kubstforening (Noruega), Biblioteca Real Alberto, em Bruxelas, Gabinete de Estampas, em Antuérpia (Bélgica), sede da Unesco (Paris) e Museu Marítimo de Macau. Em Portugal, podemos encontrar a sua obra no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no Museu Regional de Évora, Museu de Ovar, Museu Amadeo de Souza-Cardoso (Amarante) e Museu de Arte Contemporânea de Lisboa.
Júlio Resende faleceu nas vésperas da inauguração de uma grandiosa exposição da sua obra, em Lisboa. Amanhã, a Galeria São Roque inaugura, às 20h00, a exposição "Resende, uma mão cheia de cor: um pintor de mão cheia". A exposição tem o apoio do Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende, que se situa na localidade de Valbom (Gondomar) e onde faleceu o pintor, e reúne 27 obras dos coleccionadores Maria Helena e Mário Roque. Será ainda exibida a colecção "Traços de Mestre", desenvolvida por Júlio Resende para a Revigrés.
Com o desaparecimento do Mestre Júlio Resende, Portugal perde um grande nome da sua cultura, uma figura incontornável da arte portuguesa do século XX. Até sempre, Mestre!