José Manuel Osório (1947 - 2011)
Faleceu hoje, aos 64 anos, o fadista e estudioso de fado José Manuel Osório.
Nasceu na antiga República do Zaire e, até aos 10 anos, viveu em África. O fado ouvia-se em sua casa, em especial na voz de Lucília do Carmo, mas, nessa altura, pouco lhe interessava, preferia a voz de Maria Callas. Foi só quando veio para Lisboa, aos 11 anos, que se apaixonou pela canção nacional e descobriu toda a sua beleza, nas vozes de Amália Rodrigues e José Pracana. José Manuel Osório morava na zona de Cascais e, desde muito novo, começou a frequentar as casas de fado daquela zona. Começou a frequentar e a participar nas colectividades e, aos 16 anos, ganhou a Grande Noite do Fado, feito que repetiu dois anos depois.
Gravou o seu primeiro disco em 1968, com poemas de Ary dos Santos, Lima Couto, Manuel Alegre, Mário de Sá-Carneiro, António Botto, João Fezas Vital, Luiza Neto Jorge, António Aleixo e Maria Helena Reis. Forte opositor do regime salazarista, cantava fados de intervenção. No ano seguinte, gravou o segundo disco e recebeu o Prémio da Imprensa para o Melhor Disco do Ano.
Editou mais dois discos e, na década de 1970, dinamizou o teatro amador, levando à cena dezenas de espectáculos que se apresentavam nas colectividades de Lisboa.
Iniciou as pesquisas sobre o fado em 1973 quando regressou a Portugal, depois de viver em Paris, e escolheu como matéria de investigação o fado operário e anarco-sindicalista, com a intenção de o cantar. Depois da Revolução de 1974, participa na fundação do grupo de teatro A Barraca, compõe músicas para peças de teatro e grava três discos de fado tradicional. O ano passado gravou o "Fado da Meia Laranja" para uma colectânea de José Luís Gordo.
José Luís Osório, que se tinha destacado como investigador de fado nos últimos anos, tendo coordenado as colecções discográficas "Fados da Alvorada" e "Fados do Fado", foi distinguido este ano com o Prémio Amália Rodrigues Ensaio/Divulgação, prémio que receberia em Novembro. Actualmente, estava a trabalhar numa pesquisa sobre a imprensa fadista e deixou para publicação um texto de introdução à reedição do livro "O Fado e seus censores", de Avelino de Sousa, censura essa sofrida pelo próprio José Manuel Osório.
Em 1984, foi-lhe diagnosticada uma infecção de VIH/Sida. Era o doente com Sida mais antigo de Portugal e membro da direcção da Liga Portuguesa contra a Sida. Pai do jornalista Luís Osório, José Manuel Osório ultrapassou largamente a fasquia que um dia colocou: viver, pelo menos, até aos 50 anos!